domingo, fevereiro 01, 2015

OS BENEFÍCIOS DE UM AMOR SÓ!

São Paulo fica cada vez maior.
Agora.
Porque São Paulo é uma cidade elástica.
Às vezes o tempo existe, às vezes é impossível de contar.
É tanta coisa que uma hora tudo conflui que parece pouco espaço para caber.
Outra hora tudo é nada, emergindo um silêncio mortal em meio às ruas cinzentas que,
mesmo abarrotadas de carro e gente, parecem vazias.
Aí tem-se uma sensação funda, agoniante e vertiginosa no peito que
se expande e vai tirando o ar e fica pulsando.
Agora está pulsando e é incontrolável.
Vou ficando imóvel, arfantemente imóvel com olhos de peixe morto,
a vista com um foco distorcido,
os ouvidos vão emudecendo.
Continua pulsando e a adrenalina subindo e a garganta seca e o coração um bumbo,
e um clímax que não chega nunca.
Involuntariamente dei um giro pela cidade.
Agora é Avenida São João.
Parado no entrocamento fiquei pensando:
Eu nem sei muito bem sobre o que estou pensando.
Às vezes é difícil pensar.
Pensar dentro de São Paulo é mais difícil que simplesmente pensar.
Alguns dias perco as horas pensando
Alguns dias perco pensando.
Alguns dias não tenho ninguém.
Alguns dias tenho a paz transitória.
Alguns dias não tenho nada.
Alguns dias quero ir embora, ao mesmo tempo que paro num orelhão de Alan Chu e me roço com um força e com uma segurança, enquanto amo aquele paralelo entre barulho e quietude num curto espaço de tempo e digo mentalmente “é tudo isso”.
É pura ilusão e ilusão pura. A ilusão de que temos força e coragem pra lidar com a surpresa dos dias. Somos fracos por natureza. É tudo isso.
É tudo isso?
Alguém pode me ajudar?
Tenho muita coisa, sim.
Mas a única coisa que sinto ter de verdade é o Matisse que carrego no coração.