segunda-feira, agosto 25, 2014

SAUDADE: A GRANDE INVENÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA!

- Será que para cada ciclo da vida que se encerra tem-se que chorar? 

- Talvez só naqueles pelos quais se sente saudade, porque saudade é coisa que jamais deveria sair de seu lugar. E quando sai, ah, quando sai! 

terça-feira, agosto 12, 2014

ADEUS, SÃO PAULO!

    A solidão de "ser só" sempre me foi intrínseca desde que nasci, mas depois da partida de Carlos Andrade a solidão de "estar só" tornou-se intrínseca a todos os meus dias também, deixando um vazio grande demais que nem mesmo posso abraçar. As coisas, então, ficaram mais difíceis, não bastassem os impropérios de uma cidade insuportavelmente indiferente que enxergo daqui desse apartamento de concreto bruto no décimo segundo andar do Copan, que de tão poucas paredes se enche de uma prepotente liberdade, onde me desolo de inconformação por tanta frivolidade, sentimentos áridos, titubeios, esvaziamentos, evasões, e outras síndromes desses tempos que agora tenho de lidar sozinho sentado num canto gelado, na indecisão de uma quina, esperando por alguma coisa. Resta-me agora somente a imaginação de uma criança, o que não sei se consigo manter, porque é tão pura e difícil de se alcançar. Às vezes penso que Niemeyer concebeu o Copan em formato sinuoso na tentativa de instigar um tipo de movimento ilusório em cada vida pacata dali, atentada pelos mesmos sentimentos que os meus ou minimamente parecidos, tentando contrapor a mesmice de todo o resto. Mas nem sei um dia minha vida chegou a sair do lugar. Se saiu, não percebi.  

    Gostaria de deixar São Paulo, o lugar insólito que se alimenta de almas, deixar tudo para trás, no mais apressado e hediondo abandono - como se nunca tivesse estado ali ou absorvido aquele ar -, não para ir correndo à procura de Carlos, mas para tentar me desgarrar de toda e qualquer necessidade, inclusive dele mesmo, do ato de pegar em sua mão que se projeta doce e perigosamente em minha mente sempre que tenho um medo - preciso mesmo imaginar para esquecer. Os efeitos dos efeitos borboletas chegam aqui com força anormal, derrubando quem só conhece meios termos. Talvez por isso tenha ficado inerte e nunca consegui criar coragem para sair daqui. Nada prende-me aqui: não tenho amigos, família ou gato. Sou só. 

    Tenho uma paixão inexplicável que sempre me habitou desde a adolescência por Recife e Porto Alegre, que se me perguntarem porquê não sei dizer de onde veio. Mas a falta de dinheiro me impede de consagrar uma aventura, essa aventura de sair de São Paulo em minha história rasa, crédula e esperançosa demais, o que não diminui minha vontade de simplesmente sair. Tenho acordado todos os dias às cinco da manhã, abro minhas agendas de rascunhos dos livros já atrasados que preciso terminar e entregar à editora, e penso nesse momento em que pareço preso num pesadelo e me sinto sufocado querendo sair e sair e sair. Ai volto a escrever infinitamente, como nunca mais havia feito durante o tempo que Carlos esteve aqui, mesmo ainda não conseguindo dizer tudo que preciso. Preciso deixar "o viver" dessa cidade, onde seu substantivo é escravo do sofrimento. Talvez Recife e Porto Alegre sejam perto demais. Talvez Carlos Andrade esteja lá. Será que existe um lugar onde não se prometa felicidade? É que involuntariamente fica-se sedento por ela, mesmo sem se saber o que é. 

sábado, agosto 09, 2014

UM INSTANTE NA MODERNIDADE!

    Uma hora é uma coisa, outra é outra coisa. Hora não é nada. Os instantes acontecem tanto, que espera-se desesperadamente apenas que a morte não se demore, porque há um limite para suportar a vida que fica e se revira demais. Enquanto espero na protelação do destino tácito, vou vivendo nesse tipo de superfície volátil, de pessoas voláteis, de corações voláteis, e completamente fria, à medida que o tempo vai comendo o que o pensamento comanda e o que o corpo não faz. 

    Nesta superfície em que sou obrigado a viver, nos instantes em que sou obrigado a acompanhar, há uma inquietude em se falar do sentimento, mas não se fala, porque também há-se relutância - e mais que isso, um desespero de relutância - em simplesmente deixar sair o que se pede. É deixar a alma se afogar, reprimindo qualquer possibilidade de fruição e libertação de sentimento que tenta sair diante de seus estímulos, de uma paixão explodida, de um agonia crônica. Parece que só se pode ser bom com quem interessar, e esquece-se de ser bom consigo mesmo, deixando-se ser amado. O que quero dizer é que parece que há um pavor inconsequente em amar e ser amado.  

    Neste lugar em que muitas coisas tem prazo curto, me impregno de saudades progressivas que me alimentam e me corroem em todos os meus dias de sobrevivência justamente por ser eu. Então, volta e volta-se tudo e milhares de instantes antes do estado em que se encontra - em que me encontro. Eu sou bagunçado por natureza e sair deste estado e ser retirado deste estado, faz-me perder-me num escuro destrutivo, onde só com a consciência de que não me posso ser outro, é que saio da cegueira. Por isso, às vezes prefiro não correr o risco, porque andar para frente significa descobrir, e descobrir é sempre um risco. Sim, chega-se a algum lugar, mas e depois, como é que se fica nesse outro novo lugar? E as coisas são mais difíceis para mim, porque tenho adaptação mais lenta. A volatilidade então me deplora. Nunca se sabe se as coisas no futuro terão a mesma ordem do presente e do passado. O descobrimento, então, põe à beira de um mau súbito meu coração e minha paz de espírito que em mim dura até o próximo instante.   

   Automaticamente, no alto de minha pulsação arfante e da insólita tristeza deste domingo predileto, tenho certo pensamento que o tempo agrava sobre um instante que me aconteceu: 

    Que sentiste ao sentir-me? Seguraste minha mão já decrépita e tiveste pressa em descobrir-me, como se o próximo instante-luz fosse transformar-me em inexistência. Mas peço-lhe: se não tiveres coragem de suportar meu vício em aventuras, a necessidades por coisas que não entendo, e a loucura que habita meu coração, ama somente minha inexistência e deixa meu coração criar a avidez do próximo instante. Já estou perto de chegar ao momento em que não conseguirei mais falar, então quero dizer somente que ao sentir-te descobri neste instante uma coragem do tamanho do medo que tenho que me trates como líquido.