terça-feira, outubro 27, 2015

ROY LICHTENSTEIN

Essa distorção reticular que aparece no que faço é a forma que tenho para mostrar como me sinto diante da sociedade que vivo e tentar amenizar a quantidade de estímulos que recebo em cada página de revista ou em cada vitrine da 5ª Avenida. Estamos beirando os anos 70 e não duvidaria que daqui a trinta ou quarenta anos a sociedade esteja muito parecida com essa mistura de catatonia e frenesi que estamos vivendo hoje, se não igual. Se eu pudesse fazer um pedido? Seria que as pessoas olhassem as coisas mais de perto e com mais cuidado, incluindo a arte e o todos os seres, porque só assim é possível enxergar sua alma e seu coração. 

(Guilherme sobre os 92 anos de Roy Lichtenstein)

DISTOPIA!

No momento em que evocas meu nome,
meu repouso espraia-se
e minha vida é escravizada
numa viagem eternamente noturna
e sem volta.

Eu fico aqui, nulo,
aos escombros granulares,
sendo rejuntado por teus gozos e gemidos,
até que esteja pronto
para que outra vez possas me destruir.

GANGRENA!

Senti tuas mãos cuidadosamente desenhadas deslizarem
e o ranger do peso de tuas pernas sobre minha fortaleza,
aproximando-se, indômito,
desbravando meus vazios
sem rastro de hesitação.

E eu, inerme, entreguei coração e alma desnudos,
diante de teus olhos lânguidos e tua boca suave dizendo-me:
“Estes sonhos que trago
fiz para serem só teus
e vos darei todos os dias”.

Tu me tomaste, e quando o fizeste,
chorei de paixão, chorei por fora e por dentro,
que não senti a lágrima escorrer
nem a emoção no tórax ricochetear
de excitação.

Já pertencia a ti
nos primeiríssimos dezoito instantes
que apareceste,
mas não senti que teu único prazer
era minha desgraça.

sexta-feira, outubro 09, 2015

A VIDA DIANTE DE UM REMBRANDT!













Algumas coisas se parecem com o ato de observar um quadro de Rembrandt:

Você sabe o que vai encontrar no instante em que avista, não importa a que distância, da tela do computador ou da entrada do salão do Rijksmuseum. Mas ainda assim você quer olhar bem de perto, com a desculpa de que é só uma bisbilhotada rápida e inofensiva para saber o que tem de tão especial. Até que você decide ir mais perto e, quanto mais se aproxima e é seduzido, sente a adrenalina do atrevimento incendiando o corpo e alimentando o prazer intrépido que parece infindo e lhe come por todos os lados até a gloriosa perdição. Mas logo é possível perceber que intrínseco ao deleite da catarse vem o risco de trazer direto para a sua vida o horror disfarçado de sensibilidade e quietude. É necessidade, fraqueza ou provação?

terça-feira, outubro 06, 2015

LE CORBUSIER!




- Não é muito normal me perguntarem de onde vem minha inspiração. Mas isso é bom, porque parece que as pessoas conseguem saber assim que olham ou entram em contato com cada volume de concreto de pé e sentem de onde vem. Mas vou contar-lhe um segredo: Sou um pouco médium-sensitivo e capto as necessidades dos espíritos das glebas onde vou  construir e dos vivos, concateno tudo e faço. 


Guilherme (sobre os 128 anos de Le Corbusier). 

EFEITO RAUMPLAN!

Bando!
disseram, vociferaram, enfiaram no meu GnRH:
"tens 20m², coisa-nenhuma".

Eu insistia em ser maior,
querendo caber mais.
"pobre criatura,
expansivo por natureza".

Livrei-me do peso,
dos adornos, firulas, retorcimentos,
passado, policromia deturpada:
demolição.

Eis-me em osso puro:
pilar, viga, plano,
racionalismo, luminosidade.

Acabou, trouxas,
sou bem maior exatamente como pensava.