A vida pulsa e não há controle
Guilherme Oliveira
Durante o tempo que passei fora de mim, parece que perdi a consciência e voltei para a era em que ainda não sabia que eu sou o meio pelo qual a tristeza se materializa ou que eu sou a própria tristeza. Ainda me confundo como em quase tudo o que penso, mas o que importa é que minha essência é essa. Não sei porque circulo entre esses dois estados, se é penitência por algo que não tem perdão, mas ficar nesse paralelo é tão cansativo que um corpo só parece não ser suficiente para consumir. O que acontece é que o que é verdadeiramente eu se escondeu por ordem de algo que desconheço e, enquanto isso, vivi um sonho latente, onde tive parte de minha alma desviada para um plano que não pode ser tocado, ficando a parte que preserva justamente a sanidade. E não poder exacerbar a loucura me fazia definhar, porque é ela que me permite esquecer o fato de que quando não me destruo tentando ser diferente, o fazem por mim; e digo: preciso suportar uma destruição a cada dia. Corro desse estado anormal, barulhento, onde as coisas não fazem sentido, as pessoas são destemidas, que os disfarces são naturais, e não me dou conta. Nesse tempo, morei aos pés do Monumento às Bandeiras debaixo de chuva, sol, granizo e achincalho, vivendo os dias seguintes dos dias seguintes, inerte, como se um pó amaldiçoado tivesse sido soprado paralisando minha mente e me privando de pensar, fazendo de mim uma criatura demente e que aceita o cuspe que todo dia lhe é atirando. Agora eu voltei. E sempre que volto para o que eu sou apago alguém ou alguma coisa da memória, porque assim é mais fácil de suportar esse inferno que é (sobre)viver.