segunda-feira, dezembro 29, 2014

O CAPÔ DO DEL REY!

Como viver no mundo (?)
sem esperar por nada, se tudo,
mesmo na enjoada pós-modernidade,
é questão de esperar?

Esperar,
apenas vivendo o máximo
de desilusões torpes possíveis.

segunda-feira, dezembro 08, 2014

DESÁBITO!

Mostra teu brio e
detona meu corpo córneo,
dizendo toda a utopia em amar-me e
conjurando o fetiche em fazer-me criatura dócil.

Fecha-te os olhos;
entregar-te-ei minha fé em amores delirantes
para ti deleitar-te e
gozar em teu moderno leito de fingimento.

sexta-feira, dezembro 05, 2014

PULSAÇÃO!

As estórias de amor
não são para serem contadas, porque
uma hora, necessariamente,
precisam de um fim.

São segredo puro.

sexta-feira, novembro 28, 2014

AUTOMÁTICO!

Uma hora acostuma-se a tomar banho quente no verão
uma hora acostuma-se a andar de pés descalços no chão sujo de casa
uma hora acostuma-se a ter resto de comida na barba,
acostuma-se a a ter pilhas de papel
acostuma-se a desenhar gente nua
acostuma-se a ter mesma quantidade de coisa
acostuma-se a esses tempos em que tudo tem prazo pra acabar e
os "até depois" são "até nunca mais".

terça-feira, novembro 25, 2014

A PAIXÃO FINITA!










Comprei o terno e o sapato pretos, a camisa branca, a gravata amarela e as abotoaduras douradas. Mas não casei. Não porque a paixão - que dizem ter prazo - acabou, e o amor não foi suficiente para preencher o rombo que existe desde que se nasce e que a paixão cronicamente expansiva enlarguece pra poder caber. Não. Com as mãos seguras e um silêncio energicamente confortável, ainda sentia diariamente como se fosse a primeira vez as mesmas pontadas de emoção e o ar quente que partia do coração, e circulava e bombeava o corpo, deixando a respiração arfante à beira dos pulmões explodirem. Isso era uma alegria profundamente verdadeira, o que poucas vezes aconteceu em mim. Isso foi o que procurei a vida inteira.  

Também não casei não foi por causa do medo de aventuras - tudo o que acontece nos intervalos da vida -, o que acomete a maioria dos indivíduos hoje em dia, não só aqui no Rio de Janeiro. Paixão é uma aventura. Amor é uma aventura. Duas pessoas juntas são uma aventura. E nenhuma delas depende do tempo para ser intensa, porque todas são naturalmente intensas e violentas desde a primeira unidade incontável de tempo que começam. Não existem aos poucos. Eu nunca tive medo das aventuras que acontecem nos instantes, na verdade, sempre tive um devoto apego a elas, principalmente ao amor e à paixão, porque todas me fizeram sentir especial, ter momentos especiais.

E por que não casei? A verdade é que não escrevia há mais de um ano, e escrever é uma aventura que me deixa vivo sem precisar ter consciência disso.

sábado, novembro 15, 2014

EXPECTATIVA!

Meu cachorro morreu. Não tenho notícias de minha mãe há um mês. Meus sonhos ficam cada vez mais desérticos e a rotina não me deixa mais escrever, o que me obriga a ficar lembrando as coisas de cabeça, fato que nunca consegui fazer muito bem, porque os instantes são carregados demais, principalmente pra mim, que me atrapalho com a facilidade de um jovem adulto com o comportamento que não condiz com sua idade, já que paira sempre um medo de não saber ser-se, medo das múltiplas paixões, saudades e carências reprimidas. A verdade é que quando se passa tanto tempo amando devotamente tudo isso, uma hora acostuma-se à inerência dos impropérios e indecisões, e termina-se por viver uma vida sem a expectativa que um dia pareceu indissociável do corpo e que tinha como grande culpada o ser humano, sem qualquer exceção. Aliás, o que dizem sobre o ser humano ser naturalmente comunicativo é uma grande mentira. Não passa de conveniência para os tontos. Ninguém quer esperar pelo outro. Ninguém quer esperar pela resposta do outro. Uma fração de milésimo ou cinco anos têm a mesma sensação de agonia, até que se percebe que o silêncio é tudo. A verdade mesmo é que estamos sozinhos, somos sozinhos e seremos sempre sozinhos, fato que pode levar uma vida inteira pra ser entendido - normalmente através de uma epifania precedida de uma decepção - ou que nunca é aprendido. Mas quando se aprende enche-se o corpo de uma coragem que deixa o timo prestes a explodir e cheio de uma inconsequência violentamente sensual que acelera o coração e vai crescendo, crescendo, crescendo, até que se queira desbravar o mundo e sem saber onde vai dar. Viver sem expectativa é perigoso, porque fica-se sedento pelo nada. E como culpar alguém por querer o nada? 

quinta-feira, outubro 23, 2014

DIMINUIÇÃO!

É cruzamento da Rua com Avenida que 
vou atravessar, mas
não estou presente. 
Não.

Penso:
na saudade ígnea, 
na companhia inexistente,
na raiva impregnada, 
no cansaço alucinante,
no brio dissipado,
no silêncio abafado
em quantas vezes é possível começar tudo de novo.

domingo, outubro 19, 2014

AMANTE!

Por que demoraste tanto a dizer que eu era tua puta preferida?

Amei como uma tonta
o suor que exalava de teus poros e
ensebava teus pelos, enquanto
eu era Afrodite entre tuas pernas.

Esqueceste que o tempo mata.
Mas ainda não soube
a causa de tua morte.

sábado, outubro 18, 2014

A CASA MODERNISTA!


A casa modernista branca.

Quero voltar logo:
refestelo-me
simples
evolo-me
luz
espraio-me, entretanto

temo o ar da
felicidade indiscriminada que,
forçosamente, me penetra até
nos domingos regulares.

E como suportar
a angústia da invasão
do puro e duro descontrole desse preenchimento
involuntário e destemido?

Lugar difícil.

sábado, outubro 11, 2014

PARADA!

Para
suportar
a vida
que vier
é preciso
perguntar(-se)
o menos possível,
porque
prolongar
as coisas
torna
tudo
mais cansativo
do que

é.

sexta-feira, setembro 26, 2014

A MAIOR DESTRUIÇÃO DO MUNDO!

Acha-se que o coração reprimiu tudo, mas

O senso de descoberta
vai fazendo começar tudo de novo e
perder a realidade que arfantemente se faz.

Não chega o dia
em que não sentirei mais nada?
Por que?

sábado, setembro 06, 2014

ENTRELINHAS!

...
obsessões crônicas
carne queimada
romances frustrados
guerra solitária
liberdade utópica
coisa sem futuro
saudade espalhada
horas assassinas
brios frágeis
pilha de momento
cuidado excessivo
ar reprimido
"Rifa-se um coração"
morte.

Vês?

segunda-feira, agosto 25, 2014

SAUDADE: A GRANDE INVENÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA!

- Será que para cada ciclo da vida que se encerra tem-se que chorar? 

- Talvez só naqueles pelos quais se sente saudade, porque saudade é coisa que jamais deveria sair de seu lugar. E quando sai, ah, quando sai! 

terça-feira, agosto 12, 2014

ADEUS, SÃO PAULO!

    A solidão de "ser só" sempre me foi intrínseca desde que nasci, mas depois da partida de Carlos Andrade a solidão de "estar só" tornou-se intrínseca a todos os meus dias também, deixando um vazio grande demais que nem mesmo posso abraçar. As coisas, então, ficaram mais difíceis, não bastassem os impropérios de uma cidade insuportavelmente indiferente que enxergo daqui desse apartamento de concreto bruto no décimo segundo andar do Copan, que de tão poucas paredes se enche de uma prepotente liberdade, onde me desolo de inconformação por tanta frivolidade, sentimentos áridos, titubeios, esvaziamentos, evasões, e outras síndromes desses tempos que agora tenho de lidar sozinho sentado num canto gelado, na indecisão de uma quina, esperando por alguma coisa. Resta-me agora somente a imaginação de uma criança, o que não sei se consigo manter, porque é tão pura e difícil de se alcançar. Às vezes penso que Niemeyer concebeu o Copan em formato sinuoso na tentativa de instigar um tipo de movimento ilusório em cada vida pacata dali, atentada pelos mesmos sentimentos que os meus ou minimamente parecidos, tentando contrapor a mesmice de todo o resto. Mas nem sei um dia minha vida chegou a sair do lugar. Se saiu, não percebi.  

    Gostaria de deixar São Paulo, o lugar insólito que se alimenta de almas, deixar tudo para trás, no mais apressado e hediondo abandono - como se nunca tivesse estado ali ou absorvido aquele ar -, não para ir correndo à procura de Carlos, mas para tentar me desgarrar de toda e qualquer necessidade, inclusive dele mesmo, do ato de pegar em sua mão que se projeta doce e perigosamente em minha mente sempre que tenho um medo - preciso mesmo imaginar para esquecer. Os efeitos dos efeitos borboletas chegam aqui com força anormal, derrubando quem só conhece meios termos. Talvez por isso tenha ficado inerte e nunca consegui criar coragem para sair daqui. Nada prende-me aqui: não tenho amigos, família ou gato. Sou só. 

    Tenho uma paixão inexplicável que sempre me habitou desde a adolescência por Recife e Porto Alegre, que se me perguntarem porquê não sei dizer de onde veio. Mas a falta de dinheiro me impede de consagrar uma aventura, essa aventura de sair de São Paulo em minha história rasa, crédula e esperançosa demais, o que não diminui minha vontade de simplesmente sair. Tenho acordado todos os dias às cinco da manhã, abro minhas agendas de rascunhos dos livros já atrasados que preciso terminar e entregar à editora, e penso nesse momento em que pareço preso num pesadelo e me sinto sufocado querendo sair e sair e sair. Ai volto a escrever infinitamente, como nunca mais havia feito durante o tempo que Carlos esteve aqui, mesmo ainda não conseguindo dizer tudo que preciso. Preciso deixar "o viver" dessa cidade, onde seu substantivo é escravo do sofrimento. Talvez Recife e Porto Alegre sejam perto demais. Talvez Carlos Andrade esteja lá. Será que existe um lugar onde não se prometa felicidade? É que involuntariamente fica-se sedento por ela, mesmo sem se saber o que é. 

sábado, agosto 09, 2014

UM INSTANTE NA MODERNIDADE!

    Uma hora é uma coisa, outra é outra coisa. Hora não é nada. Os instantes acontecem tanto, que espera-se desesperadamente apenas que a morte não se demore, porque há um limite para suportar a vida que fica e se revira demais. Enquanto espero na protelação do destino tácito, vou vivendo nesse tipo de superfície volátil, de pessoas voláteis, de corações voláteis, e completamente fria, à medida que o tempo vai comendo o que o pensamento comanda e o que o corpo não faz. 

    Nesta superfície em que sou obrigado a viver, nos instantes em que sou obrigado a acompanhar, há uma inquietude em se falar do sentimento, mas não se fala, porque também há-se relutância - e mais que isso, um desespero de relutância - em simplesmente deixar sair o que se pede. É deixar a alma se afogar, reprimindo qualquer possibilidade de fruição e libertação de sentimento que tenta sair diante de seus estímulos, de uma paixão explodida, de um agonia crônica. Parece que só se pode ser bom com quem interessar, e esquece-se de ser bom consigo mesmo, deixando-se ser amado. O que quero dizer é que parece que há um pavor inconsequente em amar e ser amado.  

    Neste lugar em que muitas coisas tem prazo curto, me impregno de saudades progressivas que me alimentam e me corroem em todos os meus dias de sobrevivência justamente por ser eu. Então, volta e volta-se tudo e milhares de instantes antes do estado em que se encontra - em que me encontro. Eu sou bagunçado por natureza e sair deste estado e ser retirado deste estado, faz-me perder-me num escuro destrutivo, onde só com a consciência de que não me posso ser outro, é que saio da cegueira. Por isso, às vezes prefiro não correr o risco, porque andar para frente significa descobrir, e descobrir é sempre um risco. Sim, chega-se a algum lugar, mas e depois, como é que se fica nesse outro novo lugar? E as coisas são mais difíceis para mim, porque tenho adaptação mais lenta. A volatilidade então me deplora. Nunca se sabe se as coisas no futuro terão a mesma ordem do presente e do passado. O descobrimento, então, põe à beira de um mau súbito meu coração e minha paz de espírito que em mim dura até o próximo instante.   

   Automaticamente, no alto de minha pulsação arfante e da insólita tristeza deste domingo predileto, tenho certo pensamento que o tempo agrava sobre um instante que me aconteceu: 

    Que sentiste ao sentir-me? Seguraste minha mão já decrépita e tiveste pressa em descobrir-me, como se o próximo instante-luz fosse transformar-me em inexistência. Mas peço-lhe: se não tiveres coragem de suportar meu vício em aventuras, a necessidades por coisas que não entendo, e a loucura que habita meu coração, ama somente minha inexistência e deixa meu coração criar a avidez do próximo instante. Já estou perto de chegar ao momento em que não conseguirei mais falar, então quero dizer somente que ao sentir-te descobri neste instante uma coragem do tamanho do medo que tenho que me trates como líquido.  

quarta-feira, julho 30, 2014

A REALIDADE SECRETA DAS COISAS II

Essa incongruência
que procura não distorcer nada,
que não almeja ser compreendida
nem ter devoção dedicada a si,
e mesmo assim é interpelada a sair de seu silêncio vital,
e quer apenas ocupar o ou um lugar
na triste realidade repulsantemente destruidora de tudo que o vento lhe traz,

sou eu.

A verdade é que morro de medo me tornar o tipo de coisa que não nasci para ser.

Nasci para ser o quê?

terça-feira, julho 22, 2014

RENDEZ-VOUS!

O romantismo tem me feito escrever tanto em francês, que agora quero comer um rendez-vous. Quando penso, empenho um brio desbravador que nunca nascera, rasgando essas entranhas e pronto para preencher a vida de uma vez só (perigo), suspendendo-me as faculdades até um estado de eutimia progressivo assumir cabeça e coração. Mas ao mesmo tempo tenho um medo tão grande, que só Deus sabe como preciso de uma vida silenciosa e solitária para não correr o risco de sentir essa fome que faz parte da intensidade com a qual vim ocupar esse mundo de tentações e tentativas, transformando-me num tipo de coisa deletéria demais para fazer parte da vida alheia. Não lançai olhos indecifráveis sobre mim. Não entregai sentimentos engasgados a mim. Há outra possibilidade ainda?

sábado, julho 19, 2014

RESPOSTA A UM VIAJANTE DA AMÉRICA!

A alguém.

Inefável é quando a vida fica prestes à comunhão entre começar e a acabar.

I

Carne roça em alma romântica:
diz-me que torrente é esta que pulsa
em buracos não descobertos e
tormentos vazios.

II

Há a necessidade enorme que o tempo dure,
que coisas fantásticas estejam prontas
que o pecado seja perdoado
que a vida seja sensata.

III

Raízes incógnitas que suprimem o peito:
as incompletudes dentro de mim existem?
Ou fui eu que aceitei o que entrou?
São aventuras que se perpetuam em flor.

IV

Um doce novo ar penetrou por mim
com franqueza natural como se de hábito lhe fosse,
libertando um grito ígneo
até que a densidade do nirvana de desmanchasse
e escorresse em minhas paredes.

quinta-feira, julho 10, 2014

O QUE É METAFÍSICA?

Precisei abrir meu coração,
do contrário tomaria toda a vida em falatório:
Metafísica é um profundo sentimento de raiva.
C'est une chose que Dieu a créé.

sábado, julho 05, 2014

REFLEXOS DO DESCOBRIMENTO!

Não existe lugar em que seja possível se esconder dessa realidade torta já que Deus é onisciente. Mesmo assim ainda tento fazer de minha casa uma fortaleza dócil e intransponível para qualquer tipo de impropério, o que, na verdade, não passa de um lugar frágil que não me protege por ser tão igual quanto a mim, e ainda é cheia de espíritos que amo como prazeres desconhecidos que guardo em baús por causa da dependência que tenho. De quatro anos pra cá, tentei inúmeras vezes pensar numa forma de anular aquela onisciência sobre mim, normalmente enquanto lavo as mãos ou dentro do ônibus no caminho para o Derby onde costumava ir para tentar me achar. Mas ainda não sei. Aí, enquanto isso, a vida que é a pior das mortes lentas, vai penetrando como uma bala de rifle cavando vagarosa e ardilosamente destruição sem que haja qualquer possibilidade de redenção. Fico inerte e inerme, e termino me limitando e criando o medo de romper - a ação de romper que me é intrínseca e a mais forte dentre outras coisas que me deixa vivo.

Preciso romper esse mundo que me envolve; preciso romper esse mundo que me sufoca; preciso romper esse mundo que me obriga a suplicar proteção contra desgraças, mesmo sabendo ser impossível livrar-se. Preciso romper esse mundo que todo dia tem-se que escolher entre uma coisa e outra, e tudo tem consequência. Estou repetindo freneticamente porque faço disso um ritual que eu mesmo inventei, porque a mente estava vazia e eu precisava acreditar e dar minha devoção a uma coisa só. Então eu disse que o ritual seria assim "vou repetir coisas durante o tempo em que sentir que a vida está prestes a querer ser maior que eu". Assim me preservo como um tipo de coisa que ainda vai ser descoberta. E só Deus sabe quem terá a coragem de me descobrir. 

quinta-feira, junho 26, 2014

HISTÓRIAS DE SAUDADE DO RECIFE!

Mais uma vez, tive que interromper a concatenação do desfecho de outra história decisiva, porque fui acometido por um fantasma de minha própria história que não permite que coisas sejam esquecidas ou reprimidas de uma vez por todas. E a concatenação de um desfecho de uma história decisiva é tão importantíssimo para mim, porque não é a minha vida que é mais importante, não, mas sim as vidas que crio e conto nos livros que escrevo. Como de costume, uma impaciência formigante seguida de uma vontade de chorar imensa me tomou e um nó foi se formando em minha garganta, deixando-me sufocado, e somente aos poucos, após jogar água fria no rosto e decidir verbalizar mais passagens aparentemente insuperáveis de minha vida, pude ir recobrando o ar normal dos pulmões - pulmões de quem vive de surpresas. Mas dessa vez foi mais forte, talvez porque este fim de semana meteorologicamente anormal aqui no Recife, lembrou-me de outros agradáveis dias que agora também camuflam a tristeza que é mais intrínseca a mim do que a própria condição humana:

Foi numa festa no bairro da Boa Vista daquele 19 de março, enquanto mexia nos bolsos a fim de ter o que fazer e atenuar frio de um fim de noite e a timidez de estar num lugar com tantas pessoas - algo que nunca me acostumei - , que nos vimos e nos percebemos pela primeira vez, e eu sabia que a vida a partir dali nunca mais seria a mesma. Na verdade, a vida é o que nasce pra ser, não muda nem se transforma, é preciso apenas descobrir que momento é esse e onde ele se encontra. Por um segundo, senti que esse momento-vida era ali e nada mais podia fazer senão me entregar aquilo que nem sabia do que se tratava, entretanto, de jeito nenhum achava estranho. Fui olhado nos olhos e foi para onde não olhei, não como uma forma de fugir do fato de ter a alma e o sentimento descobertos de uma vez só, mas para manter o mínimo de raciocínio, já que não consigo me manter estável olhando em outros olhos, é preciso coragem, e ainda não tinha. A partir dali, o momento-vida nos queria.

(lapso)

Como dois naturalmente entediados, começamos a frequentar rigorosamente um fliperama onde passamos tantas horas que o fim caótico de minha adolescência ia sendo preenchido por um sentimento que não entendia e crescia tanto, mas esquecia de mensurar. Passamos noites no fliperama e em seguida iamos para casa onde compartilhávamos o melhor e o pior de novas vidas estirados na cama, bebendo Coca, enaltecendo ou discordando das qualidades e problemáticas dos super-heróis que viamos na revistas e ouvindo fitas de Billie Holiday que não sabia se me acalmavam meu coração ou potencializavam a inconsequência que dele queria sair, até as ruas ficarem perigosas. Um cômodo só era pouco, então, gritávamos pela janela. Gostavamos de coisas consideradas diferentes. Com o passar do tempo, o sentimento que não conseguia mensurar e a inconsequência do coração se juntavam, me consumiam, fazendo minhas entranhas fervilharem todas as vezes, todos os dias que nos encontravamos, e então, eu precisava ter a coragem para dizer tudo o que eu sentia, mas era arrefecido pelo medo de perder a intensidade, o aconchego, a descoberta, a segurança, a alegria e o que mais havia naquela companhia. Por vezes quis colocar sua cabeça em meu ombro, acariciando seu rosto e esquecendo moralidades de nossa época. O tempo passava e eu não conseguia, ficava cada vez mais desconsertado e, ao mesmo tempo que me enchia de uma energia calorosa, sentia que morria e morreria se ficasse mais um dia em silêncio. Até que no que dia que ficamos em casa fazendo colagens, bem no início de "The Very Thought Of You", eu ouvi o que não tive coragem de dizer. Eu quase disse tudo que precisava sair. Então, nos abraçamos e beijamos até a fita que ouviamos todos os dias acabar. Não quero e não consigo criar esforços para descrever, vou guardar para mim ou até o fantasma voltar.

Depois desse dia nunca mais nos vimos. 

segunda-feira, maio 05, 2014

INCONSTÂNCIA!

Mal de ser humano é achar que tem tudo ou simplesmente tem, mas, na verdade, não tem-se é nada, nem na cabeça, nem no coração, nem na mão, porque somos naturalmente vazios e iludidos pelo sentimento de necessidade até o dia de morrer. É parecido com maré - que eu já entendi: aquele movimento de vai-vem, que num instante de pura e aparente infinita plenitude não deixa espaço pra nada, e no outro se retrai, com a mesma plenitude dissolvida, deixando uma saudade do tamanho do abismo entre guerra e armistício - e saudade é responsabilidade. Mas não há arrependimento, porque a necessidade é tão intensa e natural que faz o ciclo se repetir sem titubear, e é na natureza da intensidade, a força motriz, o único momento em que somos verdadeiramente animais, nos outros, não passamos de uma espécie de coisa que não deveria ter sido criada. Às vezes a morte fica mais próxima do que se imagina, porque é o avesso e tira o medo disso tudo, é próprio preenchimento, é o que é, então isso basta. 

sábado, abril 26, 2014

UMA VIDA DE PACIÊNCIA!

O cansaço que tenho vai além de uma explicação ou compreensão lógica, que nenhum humano sabe do que se trata, porque vivo e amo. "vivo e amo" é tão pouco som, mas tão pesado, que parece que morro e revivo num instante só quando pronuncio, ouço e sinto. Viver é cansativo. Amar é prejuízo. É um risco desmedido, mas o perigo faz parte da minha essência que é naturalmente autodestrutiva. Não dá para ser diferente. Me lembrei que quando a gente nasce, automaticamente já se entra num estado crítico de esperar, que independente da paciência de quem espera, se não for pra ter, não se vai ter o que se quer. Isso soa como um rumo forçoso à redenção por algo que não pode ser contrariado: destino. Redenção é aceitação que é destino. Somos um pouco descendentes do deuses do olimpo, que não tinham a mínima virtude da paciência. Eu também tenho pressa, pressa que urge de dentro da carne e acontece com uma vontade doentia. E aí eu preciso gritar, mesmo cansado, e preciso que a vida acabe. A verdade é que eu não queria vida nem amor pra mim. 

segunda-feira, abril 21, 2014

SENSIBILIDADE DEVORADA!

Tu, que também és vagante e sobrevivente dessa cidade escura e vicinalmente deprimente, devora toda minha sensibilidade como se fosse teu último ato até ficarmos em estado imutável de eutimia. Sou apenas um ser cheio de inconsequência que tem essa coisa de viver sempre prestes a saltar de um trampolim de dez metros de altura, caindo, se envolvendo, se afogando, recobrando a consciência, de novo. Arrasta-me para desbravarmos todos os becos escuros onde tensões de refulgiam. Arrasta-me escuro adentro que vou livrar-me do cansaço dessa lacuna da tua energia que sequer conhecia, mas que fantasiei e fantasiei - exatamente como ela é -, alimentando o corpo com uma lisergia perigosa mais uma vez. A vida se acaba rápido quando se tem medo, então corramos sem as amarras de quase desconhecidos. Consome-me sem que eu tenha tempo de respirar e dar-te-ei o prazer que só existe entre o que é infindo e verdadeiro, e que só habita aqueles nascidos para morrer de imaginação. Por que demoraste a aparecer? 

quarta-feira, abril 09, 2014

ATORDOAMENTO!


Sou o primogênito dileto da Materna Escuridão que
Jamais deixara-me pertencer a lugar nenhum,
Afastando poetas e ectoplasmas desvairados.

Agora, jaz o ser putrefato
Sucumbindo no mesmo feudo doente que
Fez o diabo vomitar e cair
Em sagrado sofrimento.

Escorre a forma...
E paira, etéreo e eterno,
O desolamento de uma praga nefasta e
O gozo de um fim convulsivo.

terça-feira, abril 08, 2014

DESPEDIDA!

"Eu te amo tanto como se estivesse dizendo adeus".
                                                        Clarice Lispector

Joga teu corpo no asco e
Livra-me depressa da carnificina que é
O esvaziamento.

Vê esta alma que
Em metástase pela desgraça
Idolatrou e amou tua aura sebosa, e
Agora seca no ar do limbo.

Enquanto refestelo-me na loucura,
O tempo não oferece mais nada,
Além de escrever,
Para a vida que morreu.

terça-feira, março 18, 2014

ANSIEDADE!

Revolução só é completa quando se nasce de novo
                                                         Guilherme Oliveira

Que és tu, Ansiedade?
Exigente causadora.
Pedante.
Doença.

Estado agonizante de
sufrágio,
disparo,
espraio.

Deixei-me ser-te e fui somente um moribundo furacão da Louisiana
Levado pela melancolia e a loucura que cingem o Pavilhão da Alma.

Agora vocifero-lhe.
Comecei uma revolução
que confesso não saber o rumo.
Ansiedade.

terça-feira, março 11, 2014

DESTINO DESVAIRADO!

A vida pulsa e não há controle
        Guilherme Oliveira

Durante o tempo que passei fora de mim, parece que perdi a consciência e voltei para a era em que ainda não sabia que eu sou o meio pelo qual a tristeza se materializa ou que eu sou a própria tristeza. Ainda me confundo como em quase tudo o que penso, mas o que importa é que minha essência é essa. Não sei porque circulo entre esses dois estados, se é penitência por algo que não tem perdão, mas ficar nesse paralelo é tão cansativo que um corpo só parece não ser suficiente para consumir. O que acontece é que o que é verdadeiramente eu se escondeu por ordem de algo que desconheço e, enquanto isso, vivi um sonho latente, onde tive parte de minha alma desviada para um plano que não pode ser tocado, ficando a parte que preserva justamente a sanidade. E não poder exacerbar a loucura me fazia definhar, porque é ela que me permite esquecer o fato de que quando não me destruo tentando ser diferente, o fazem por mim; e digo: preciso suportar uma destruição a cada dia. Corro desse estado anormal, barulhento, onde as coisas não fazem sentido, as pessoas são destemidas, que os disfarces são naturais, e não me dou conta. Nesse tempo, morei aos pés do Monumento às Bandeiras debaixo de chuva, sol, granizo e achincalho, vivendo os dias seguintes dos dias seguintes, inerte, como se um pó amaldiçoado tivesse sido soprado paralisando minha mente e me privando de pensar, fazendo de mim uma criatura demente e que aceita o cuspe que todo dia lhe é atirando. Agora eu voltei. E sempre que volto para o que eu sou apago alguém ou alguma coisa da memória, porque assim é mais fácil de suportar esse inferno que é (sobre)viver. 

quarta-feira, março 05, 2014

O FIM DO CARNAVAL!

Dos balangandãs sobraram a tristeza e o amor enraizado. 

A mentira 

terminou.

A alegria

se esvaiu.

Todo mês de fevereiro pra mim é igual. 

sábado, março 01, 2014

SUPERFÍCIE!

Não vou dizer isso de uma forma como se descreve a morte de uma flor, porque o farei sem polimentos demais em homenagem a um corpo que tem pressa:

Hoje eu não queria escrever sobre nada, queria apenas ser estéril de mim mesmo num surto de esvaziamento onde sobrassem só coisas palpáveis. Ah como supliquei estar nessa superfície pura e que é minha por direito, por natureza e por necessidade! Agora, finalmente, estou voltando para o rumo e tratando de cumprir com excelência a minha incubêmcia-mor: uma solidão. É, solidão indefinida, porque solidão definida em absoluto com artigo "a" é impossível já que não consigo me livrar de minha própria sombra, que, por sinal, parece não se agradar com seu objeto real. Enquanto me endireito e me encaminho para o destino, emerge como um último eco da aura que vai deixando de existir um bolero bem baixinho de Dolores Duran que unido ao nada e à liberdade de tudo que se sente produzem um estado de ser para o qual eu nasci. Quero apenas sentar e ver o que o tempo faz quando perceber que simplesmente não respondo mais a sua violência hedionda. Tudo então  se acaba.

domingo, fevereiro 23, 2014

APENAS UMA PROSA DE DOMINGO!

Sempre tive tanta dificuldade de lidar com o instante, que tenho medo de me mexer e saber do que se trata o próximo. Então eu vim para esse lugar, onde eu me refugiei para ficar vivo e tentar escapar desse circuito interminável de almas que me habita e me obriga todos os dias a procurar um ar que parece não existir. É um lugar que não posso pronunciar, senão deixo de ser fiel a mim mesmo e termino voltando milhares de instantes, ficando pior do que estou. Mas não era assim até eu ter a consciência do thauma que me abateu e me cansa fazendo dar um suspiro seco por segundo. É esse thauma que hoje me dá a tristeza onde eu vivo, me refestelo e escrevo prosas e peças infinitas de sofrimento sobre um amor que não consigo reprimir - reprimir, porque não posso superar, já que superar exige assassinar o coração. Dentro destes instantes de repressão que passam enquanto escrevo, sinto o esforço que já fiz na busca pelo que chamam de felicidade, e percebo que a "infelicidade é mais sútil", como uma vez disse uma sábia ucraniana das palavras. Quando pensei nisso me espantei, mas logo conclui que infelicidade é apenas a falta de felicidade, é simples, como eu preciso ser e as coisas que se revelam ao redor também. Eu queria apenas falar: as palavras escritas precisam de liberdade. Falar toda a reprimenda que se instala nesse corpo do qual nada restará. Falar o juramento que fiz onde digo: juro, eu juro que tentei, mas o sentimento se sobrepôs a mim, me carregando para um estado onde só seria possível sair com a morte ou com o amor pleno que me preencheria de maneira tão doce que jamais desejaria mais nada. Perdão, mas o que é oferecido em troca do amor eu não posso aceitar, pois sou apenas um ser que ainda precisa de coragem pra atingir um momento de ser magnânimo. Minha penitência, então, é ter todas as almas que me habitam violentadas pela saudade e sedentas pela companhia desse sentimento que só se conhece uma vez nessa vida. Perdoe-me mais uma vez, é que eu precisava falar sobre essa aflição impetuosa que vive dentro de mim alimentada pela indiferença e pela rejeição. Vou ficando no silêncio mais uma vez, como se nada tivesse sido dito, indo para os aposentos da solidão - solidão de mão, solidão de corpo, solidão. Perdão. 

quinta-feira, fevereiro 13, 2014

CONFISSÃO!

Subitamente senti meu coração bater arfante, quase ritmado por uma melodia que parecia ser a mistura de uma sinfonia dramática de Tchaikovsky com o assobio da infelicidade, à medida que, inconscientemente, chamava por um Deus que eu não sabia se me ouvia pra conter a tristeza que já insuportável tentava sair. E tentava sair porque eu não cabia ali e não deveria estar ali, onde era quase impossível ficar sereno. Os nervos naturalmente decrépitos convaleciam e meu sofrimento aumentava diante do inferno que era padecer dentro daquele lugar cruel. E era tudo tão forte que podia sentir minhas costelas sendo atacadas enquanto as entranhas se comprimiam e se expandiam. Eu não sabia se aquilo era o mundo ou se, na verdade, era a gênesis do mundo, onde todas as coisas eram nefastas, desorganizadas e estavam longe de serem compreendidas e amáveis, e dominada por seres vis. E eles insistiam em sentar ao meu lado, fazendo parecer que sua única fonte de energia era me causar todo o improprério que fosse possível. E eu só querendo a libertação da alma. Naquele momento, enquanto todo o pensamento já era a própria loucura, vomitei tudo o que era possível e comecei a definhar por um sufocamento que cresceu da indiferença que emanava de uma alma em particular. Nunca havia sentido a morte, mas eu queria mesmo morrer, bem ali, na frente de toda aquela cena sub-mundana pra que o corpo exalasse o cheiro de asco, dor e tristeza de uma só vez. Suavemente deixei as faculdades se perderem, os olhos se fecharem e a lágrima sair como um último pedido súbito de paz. 

sexta-feira, fevereiro 07, 2014

ESGOTAMENTO!

Eu queria entender tudo de uma vez só: queria entender o mundo de uma vez só, queria entender a vida de uma vez só, como as coisas que não precisam de explicação, que nascem e terminam no silêncio. E não poder entender me causa tanta dor nas extremidades, que parece as chagas que foram feitas em Jesus Cristo. Talvez eu sofra pelo fato de algumas muitas vezes tentar atingir um estado de conhecimento-nirvana que só Ele nasceu incumbido. Mas eu não sei a hora de parar, e quanto mais distante do entendimento humano as respostas ficam, mais quero mergulhar, como se isso fizesse parte de uma aventura ou uma batalha entre "o que é" e "o que tenta ser". E nesse  pensamento doido, frenético insisto até o momento de quase esgotamento da alma. Esse meu pensamento vive dentro de um lugar que se parece com aqueles espaços sideriais de desenho animado e me deixa absorto esperando a hora de ser atingido por um vórtice e não precise mais querer nada. A fantasia que existe todos os dias é por motivo de sobrevivência, porque se deixar de existir, vou viver de que, se não vou poder suportar até o instante decisivo em que nunca mais precisarei me questionar? Eu: entendo nada. 

quarta-feira, janeiro 01, 2014

REPETÊNCIA!


Ah, Amor, cá estou nesta sentença destinal, de junquilhos na mão, a esperar eternamente que me leves na tua galera para algures. Espero com tamanha fidelidade que meus pés parecem já se fundir com a frieza do mármore sobre o qual se apoiam, tornando-me inerte até que me salves. Enquanto me atravessas com teu olhar que se iguala à lâmina de uma espada mortífera, clamo que leve-me sem que procures inquietantemente por minha beleza, e apenas faça-me tua companhia e deixa-me dirigir a ti, durante a nossa eternidade, as rimas emparelhadas mais ricas que construí, as quais não podem jamais ser ouvidas por mais ninguém. Humildemente, intento sentar ao teu lado e navegarmos até o teu castelo nas nuvens, onde eu serei teu único e sempre amante cortês. Amo-te, porque nasci do caos e nele quero morrer.