sábado, abril 20, 2013

DE S APE G O!

Não vislumbro mais os bons sentimentos. Comecei a nadar numa inconsequência tão forte e imprevisível que a vida agora desconhece teu filho sucumbido e sôfrego aos acontecimentos que levam o ser ao limite. Os impropérios de um dia-a-dia humano já não incomodam mais como na era passada, porque os engulo como se fossem segredos que me ocorrem - e não conto nenhum. Não me deito mais afoito em meio ao calor estivo, que já é aflitivo o suficiente, esperando receber a carta endereçada de São Paulo. Não sou mais como um animal doméstico que precisa ser cativado e sofre de ausência. Não. Hoje sou vazio como um hiato, naturalmente desprovido do apego que um dia achei ser indesligável. Hoje sou quase como um adolescente demente que tem a fantasia como sua desgraça. E o que importa se me desconheço? Resguardo tudo o que não dei numa tentativa cega e desesperada de ser algo em que ainda não me transformei. 

sábado, abril 13, 2013

A BELEZA DA SAUDADE!


Não consigo entender essa vontade umbilical e inumana de olhar-te - não diretamente nos olhos, porque Deus não me deixa - olhar-te tenro. Digo-te: é preciso paciência como a mulher que coze a colcha seis horas por dia, a qual cubro meus pés, a fim de imitar o prazer que é sentir-te no meu leito abençoado e sempre doente por ti. Acho que é teu halo de displicência que me faz agonizar perante a ti e amar-te tão catatonica e temerosamente como Santa Teresa amou. Meu coração, que oscila entre o gozo e o cansaço, flutua por uma cidade fantasma, onde a única salvação é a tua casa. Aos poucos, definho enquanto o privilégio da saudade que dedico a ti cresce num ritmo delirante. Peço-te que abras caminho para meu corpo cair, já que teu afago será a última coisa que terei antes de me entregar à Sagrada Eternidade. 

domingo, abril 07, 2013

O CORAÇÃO INVISÍVEL!

Enquanto o caldo da manga escorria pelo braço, pude sentir a vivacidade do corpo ao mesmo tempo que me senti tão ordinário quanto alguma coisa ordinária que não sei e não devo dizer. O caldo parece o plasma que, delicadamente se desprendeu do sangue e, corre recém saído da cabeceira, aflito por um horizonte. Pergunto-me em que parte do corpo fica a alma. Marejado, e em meio a um silêncio pesado como concreto bruto, encarei o sumo como se não me pudesse livrar, e tal fizesse parte de mim como uma veia pura de vida. Meu coração batia arfante, porque a minha vida é assim - escorregadia e perigosa. Qualquer coisa é um estopim. Saudade é estopim, felicidade é estopim. Solidão é constante. Ajoelho-me estendendo os braços numa posição de redenção, esperando só que o caldo pingue na sombra da alma. 

terça-feira, abril 02, 2013

DOLO E CONSCIÊNCIA!

O leão que me habita nunca teve o brio necessário para suportar a realidade infernal em que vivo. E como vivo? Acomodo-me no chão de qualquer maneira já familiarizado ao pisoteio grosseiro da indocilidade. Suplico ao reino onisciente a piedade, não por capricho, mas por incapacidade de ME levantar e levantar minha voz baixa que só sussurra o que o mundo pede. Em todos os instantes dentro dos agoras fico inerte na vida movediça, esperando o socorro dos anjos perante à intemperança nefasta do dia. Não caibo mais num dia; e enquanto tento sobreviver - já que viver é quase insuportável -, torrentes de promessas passam por mim. Temo que os gritos dos semi-deuses insensíveis façam-me cair numa tristeza infinda e chorar um pranto que jamais desferi sequer à daninha mais maldita que já pode existir. E aceito tudo isso, dando as outras partes da alma para serem golpeadas.