quarta-feira, julho 30, 2014

A REALIDADE SECRETA DAS COISAS II

Essa incongruência
que procura não distorcer nada,
que não almeja ser compreendida
nem ter devoção dedicada a si,
e mesmo assim é interpelada a sair de seu silêncio vital,
e quer apenas ocupar o ou um lugar
na triste realidade repulsantemente destruidora de tudo que o vento lhe traz,

sou eu.

A verdade é que morro de medo me tornar o tipo de coisa que não nasci para ser.

Nasci para ser o quê?

terça-feira, julho 22, 2014

RENDEZ-VOUS!

O romantismo tem me feito escrever tanto em francês, que agora quero comer um rendez-vous. Quando penso, empenho um brio desbravador que nunca nascera, rasgando essas entranhas e pronto para preencher a vida de uma vez só (perigo), suspendendo-me as faculdades até um estado de eutimia progressivo assumir cabeça e coração. Mas ao mesmo tempo tenho um medo tão grande, que só Deus sabe como preciso de uma vida silenciosa e solitária para não correr o risco de sentir essa fome que faz parte da intensidade com a qual vim ocupar esse mundo de tentações e tentativas, transformando-me num tipo de coisa deletéria demais para fazer parte da vida alheia. Não lançai olhos indecifráveis sobre mim. Não entregai sentimentos engasgados a mim. Há outra possibilidade ainda?

sábado, julho 19, 2014

RESPOSTA A UM VIAJANTE DA AMÉRICA!

A alguém.

Inefável é quando a vida fica prestes à comunhão entre começar e a acabar.

I

Carne roça em alma romântica:
diz-me que torrente é esta que pulsa
em buracos não descobertos e
tormentos vazios.

II

Há a necessidade enorme que o tempo dure,
que coisas fantásticas estejam prontas
que o pecado seja perdoado
que a vida seja sensata.

III

Raízes incógnitas que suprimem o peito:
as incompletudes dentro de mim existem?
Ou fui eu que aceitei o que entrou?
São aventuras que se perpetuam em flor.

IV

Um doce novo ar penetrou por mim
com franqueza natural como se de hábito lhe fosse,
libertando um grito ígneo
até que a densidade do nirvana de desmanchasse
e escorresse em minhas paredes.

quinta-feira, julho 10, 2014

O QUE É METAFÍSICA?

Precisei abrir meu coração,
do contrário tomaria toda a vida em falatório:
Metafísica é um profundo sentimento de raiva.
C'est une chose que Dieu a créé.

sábado, julho 05, 2014

REFLEXOS DO DESCOBRIMENTO!

Não existe lugar em que seja possível se esconder dessa realidade torta já que Deus é onisciente. Mesmo assim ainda tento fazer de minha casa uma fortaleza dócil e intransponível para qualquer tipo de impropério, o que, na verdade, não passa de um lugar frágil que não me protege por ser tão igual quanto a mim, e ainda é cheia de espíritos que amo como prazeres desconhecidos que guardo em baús por causa da dependência que tenho. De quatro anos pra cá, tentei inúmeras vezes pensar numa forma de anular aquela onisciência sobre mim, normalmente enquanto lavo as mãos ou dentro do ônibus no caminho para o Derby onde costumava ir para tentar me achar. Mas ainda não sei. Aí, enquanto isso, a vida que é a pior das mortes lentas, vai penetrando como uma bala de rifle cavando vagarosa e ardilosamente destruição sem que haja qualquer possibilidade de redenção. Fico inerte e inerme, e termino me limitando e criando o medo de romper - a ação de romper que me é intrínseca e a mais forte dentre outras coisas que me deixa vivo.

Preciso romper esse mundo que me envolve; preciso romper esse mundo que me sufoca; preciso romper esse mundo que me obriga a suplicar proteção contra desgraças, mesmo sabendo ser impossível livrar-se. Preciso romper esse mundo que todo dia tem-se que escolher entre uma coisa e outra, e tudo tem consequência. Estou repetindo freneticamente porque faço disso um ritual que eu mesmo inventei, porque a mente estava vazia e eu precisava acreditar e dar minha devoção a uma coisa só. Então eu disse que o ritual seria assim "vou repetir coisas durante o tempo em que sentir que a vida está prestes a querer ser maior que eu". Assim me preservo como um tipo de coisa que ainda vai ser descoberta. E só Deus sabe quem terá a coragem de me descobrir.