sábado, agosto 29, 2015

INÍCIO!

Minha mãe disse “não solte minha mão”, mas sempre fui teimoso. E por isso, hoje faz três dias que vim parar nesse mundo diferente chamado “       “ e sou obrigado a conviver com seus moradores carinhosamente conhecidos como “coisa". Aqui ninguém me vê ou me ouve. Mas também não quero contar com ninguém,  ao mesmo tempo que tenho uma essência naturalmente carente. É, estou completamente sozinho e sem nada verdadeiro, a não ser pela companhia de um líquido que posso desfrutar dez segundos por dia ou a telepatia com qualquer animal durante 10 minutos. Mas nunca é possível é ter os dois no mesmo dia. Difícil.

sexta-feira, agosto 14, 2015

VOLTA!

Comecei a voltar a escrever em papel margeado pelo qual sempre tive uma paixão incomparável e deleitante e incorruptível desde que (...), desde que descobri que vivo dependente da complacência da alma e me tornei entusiasta da metafísica. Mas fiquei tão impregnado de mim mesmo que precisei me desgarrar e resolvi me aventurar na modernidade proporcionada pela máquina de datilografar, o que me aconteceu no momento em que estava por encerrar mais um ciclo da minha vida e que ansiava avidamente a descoberta de alguma coisa nova, mesmo sabendo que até que se internalize a ideia do novo vai-se até o limbo para ver se se suporta a ansiedade. 

Precisava sentir o prazer como o de quem morde uma manga e tem todo o caldo amarelo escorrendo pelo pescoço e fazendo cada pelo se ouriçar abruptamente; e poucas coisas guardam esse prazer. É preciso coragem para procurar. Então a máquina era isso. O que mais me faz é aquele barulho que é uma espécie de frenesi avisando "olha, você está vivo (neste mundo infernal) por mais que não queira". Era o que me fazia ficar ali todos os dias, impreterivelmente às quatro da tarde, porque o som de cada tecla era o anúncio de mim mesmo, o eu que saia aos poucos com a força bruta de todos os movimentos mesclados ao terror e à hesitação da rotina turbulenta, ansiosa, arfante, vacilante. Era o prazer da liberdade violenta por instantes. Uma liberdade mesclada a uma libertinagem adolescente que pouco apareceu na época que morei no Recife. 

Diferente da máquina, o papel já é um extensão de mim, naturalmente. Então trocávamos de lugar constantemente, o que me permitia viver com mais delicadeza, às vezes me deixar e ser alguém com mais liberdade por mais tempo, liberdade digna, plena, e não desperdiçada. De um jeito que se esquece que você é alguém e simplesmente vive. Quando não me suporto mais é o papel que se torna quem ou o que preciso ser. E não preciso ter medo das consequências - que não são poucas - de toda a exacerbação da liberdade que sonho. É minha própria vida entrando e saindo através do meu próprio corpo.

Guardei isto durante cinco meses, mas só tive coragem de contar agora, porque algumas coisas precisam de um brio grande demais para serem expostas. 

sexta-feira, agosto 07, 2015

CASULO!

Tem uma certa música que tenho ouvido muito ultimamente e gostaria que fosse a música de meu funeral, enquanto as pessoas choram e olham-me como nunca me olharam em toda essa vida. Mas não há ninguém a quem possa confiar esse desejo, porque vivo sozinho desde que a capital mudou de lugar e agora é em Aracaju. Aliás, também não tem ninguém pra chorar por mim debruçado no caixão. Nem sei se vão me achar, por isso preciso pensar numa morte que seja pública, do contrário, Deus vai demorar tanto pra me consumir que acho que não vale o esforço. Gostaria de alguém que me atendesse esse último desejo como um último sentimento e único de que um sonho humano se realizou. Não consegui escrever minha própria história. Não consegui me conectar a nada, nem a ninguém.

domingo, agosto 02, 2015

PULSAÇÃO!
















Sabe, hoje eu acordei e senti vontade de tomar meu café em outra xícara que não aquela amarela comum a todas as manhãs. Certas coisas mudam, outras se transformam. Mas algumas permanecem as mesmas: a xícara mudou, mas levantei da cama pensando em ti como de costume. Achei que talvez já tivesse lhe falado tudo o que tinha pra falar, mas tenho começado o dia - como este - querendo falar coisas que eu nem mesmo sei o que é - em parte sei. Sim, falar pra ti. Consegue perceber como estou sentando aqui, tomando café numa xícara diferente e ansioso e arfante a ponto de uma morte precoce? Percebe? 

Tenho a sensação que sua mão não alcança a minha, e isso me faz ter que me esforçar mais para fazer minhas palavras chegarem prontas e inteiras até você. Queria dizer: eu te amo, mas precisei dizer adeus porque sabia que você não seria inteiramente meu. A vida lhe queria e lhe quer. E eu vou me tornando um ser proporcionalmente ranzinza e um pouco mais triste, porque te amo, mas não posso lhe ter. Achei que por um tempo não precisaria falar de ti, mas ainda a cada nova hora e cada novo hiato da sua presença sinto você pulsando (mais forte) dentro de mim. Eu te amo e tenho medo de não conseguir suportar. É como se eu estivesse - na verdade, estou mesmo - enterrando forçosamente algo que eu não queria ou que ainda não chegou a hora. Mas preciso pra ficar vivo. 

O tempo vai passando e não consigo sair desse lugar. Às vezes tento, mas não consigo. Aí a saudade vai aumentando e aumentando, a ponto de quase ter todo o oxigênio do corpo queimado. Desculpe se falei demais como de costume, mas se você chegou até aqui, gostaria só que soubesse que penso em seu lindo rostinho todos os dias. E penso em voltar pra você. 

Arre égua, só queria falar que acordei com uma puta vontade de ter você por perto. 

Tá foda.