Meu nome não importa. Desejo apenas ser uma pessoa e espero que compreenda (sinta). Lhe convidei para a exposição da Carla Chaim para tentar explicar como eu sou. Não pense que essa é a primeira vez que o faço, tampouco que é a primeira vez que penso em fazê-lo. Na verdade repito mentalmente essa explicação todos os dias, às vezes numa frequência de quatro vezes ininterruptas, criando um ciclo, o qual sempre me dediquei com o afinco de um homem que ama-cultiva-ama suas próprias convicções. Isso quando não erro uma palavra, pois se erro, repito outras quatro vezes porque é meu número da sorte.
Cá estamos. Vê? Este chão de concreto queimado salpicado de tinta branca, essas paredes de compensado rabiscadas de crayon preto, o cubo metálico que penetramos vagarosamente como um animal num novo habitat e esse som de batimento de cardíaco se parecem muito comigo. São a exacerbação de alguma coisa, alguma coisa que precisou sair.
O fato é que sou oco por natureza, assim como as coisas que um dia já tiveram seu estado bruto e foram violentamente sendo transformadas em alguma outra coisa. Sou vazio e vão me enchendo de coisa e enchendo e enchendo sem qualquer discernimento até eu fique prestes a explodir. Aí, assim como uma dama da noite ou a maré ou a morte, preciso sair do mundo para me esvaziar e começar tudo de novo. É um processo natural. Agora estou me escancarando aos poucos, mas sempre tenho medo de voltar, porque sei que não faço parte daqui. Se o mundo não comeu seu coração, há de enxergar (sentir).