segunda-feira, setembro 28, 2015

PROJETO 7!

Prazer.

Meu nome não importa. Desejo apenas ser uma pessoa e espero que compreenda (sinta). Lhe convidei para a exposição da Carla Chaim para tentar explicar como eu sou. Não pense que essa é a primeira vez que o faço, tampouco que é a primeira vez que penso em fazê-lo. Na verdade repito mentalmente essa explicação  todos os dias, às vezes numa frequência de quatro vezes ininterruptas, criando um ciclo, o qual sempre me dediquei com o afinco de um homem que ama-cultiva-ama suas próprias convicções. Isso quando não erro uma palavra, pois se erro, repito outras quatro vezes porque é meu número da sorte.

Cá estamos. Vê? Este chão de concreto queimado salpicado de tinta branca, essas paredes de compensado rabiscadas de crayon preto, o cubo metálico que penetramos vagarosamente como um animal num novo habitat e esse som de batimento de cardíaco se parecem muito comigo. São a exacerbação de alguma coisa, alguma coisa que precisou sair. 

O fato é que sou oco por natureza, assim como as coisas que um dia já tiveram seu estado bruto e foram violentamente sendo transformadas em alguma outra coisa. Sou vazio e vão me enchendo de coisa e enchendo e enchendo sem qualquer discernimento até eu fique prestes a explodir. Aí, assim como uma dama da noite ou a maré ou a morte, preciso sair do mundo para me esvaziar e começar tudo de novo. É um processo natural. Agora estou me escancarando aos poucos, mas sempre tenho medo de voltar, porque sei que não faço parte daqui. Se o mundo não comeu seu coração, há de enxergar (sentir).

quinta-feira, setembro 24, 2015

NA COMPANHIA DE ROTHKO!

Não veem que eu morri?
Eu morri, não importa como foi, é um história,
história toma tempo, e tempo tem ficado escasso
nessa realidade dominada pelo excesso de lixo.
Vão viver e celebrar o Sputnik, a fibra ótica,
as drugstores, os letreiros kitsch.
Deixem-me ir.
Ou pelo menos finjam que morri e criem um motivo.
A porra que for, mas me deixem ir.

Achei meu lugar.

Chiaroscuro,
pé direito colossal
com perturbações quase nulas e uníssonas,
ninguém me vê,
eu vejo e me deito
nesta madeira que pode parecer fria, dura e desconfortável,
mas não é,
é o que eu sempre quis.
É maravilhoso e mágico.

Não precisam oferecer complacência, misericórdia, luto,
deixem para as carnes frescas e momentaneamente róseas.
O mundo já me matou, meus ciclos se encerraram.
Deixem-me sumir, sem réplicas ou tréplicas espirituais,
nem lembranças deletérias.
Estou no lugar que devo estar,
Somos só Rothko e eu.

terça-feira, setembro 22, 2015

O ERRO DE BERNINI!

Fruto de amor incompreendido
e perfeição irrequieta,
repouso em águas sagradas
diante do espetáculo terreno.

Sinto-me completo,
insaciavelmente forte e imponente,
principalmente quando chegam,
e me encontram absorto e amoral
contemplando o nada.

Olha-me o quanto quiser
e volta sempre que o tédio violentar,
quem sabe assim não descobres
e abrandas minha única tristeza:

não posso contemplar-me.

CASTELO DE SANT'ANGELO!

Quando acordares,
continuarei aqui,
sendo a ilusão gozosa
que vaga em teu espirituoso leito
e preenche todos os teus atos
previsíveis e enfadonhos.

Quando pensares que morri,
estarei cuidando de tua vida
imersa em mágoas palpitantes
e esperanças dementes.
No fim, terás somente a mim:
Tua única verdade.

domingo, setembro 20, 2015

RIBEIRA!

Chegou a maré das quatro,
tudo encheu,
e nem sei teu nome.

Já me embolei no sargaço,
caí no indizível,
e agora não sou mais leme.

sexta-feira, setembro 18, 2015

ATACAMA!

Eu apenas existo e sou simples, muito simples, muito mais simples que um microrganismo que não tem intenção de promover revolução nenhuma, e gostaria de permanecer assim até o fim dos meus dias: sem impropérios e permanências duradouras demais. É que a existência já é tão torpe, que não quero correr o risco de ter a lentidão da morte agravada. Não tenho, não sou e não quero ter nada, mas tenho essa mania sistematicamente involuntária e irritante de atrair o mundo mesmo sendo um ser primário e insignificante, o que não entendo, como muitas das outras coisas que também não entendo, como as necessidades humanas e o satélite. Eu bem sei como as chegadas também são perigosas, principalmente para mim que nasci para ser sozinho. E muita coisa que chegou, trouxe uma enxurrada e me arrastou, me obrigando a trocar de lugar incontáveis vezes. Por isso, gostaria apenas de ir vivendo sem adesões. Não chegue mais perto, posso não aguentar outra mudança.

quarta-feira, setembro 16, 2015

TRIÂNGULO DAS BERMUDAS!

Triste de quem precisa de um tempo,
que vai se retirar para tentar sobreviver
e esquece que não se pode viver
uma coisa de cada vez.

Tempo: a realidade já é volátil e catabólica o suficiente.

Tempo, a realidade já é volátil e catabólica o suficiente.

RECIFE ANTIGO!

A extensão do meu coração,
na verdade, é muito curta,
sem cor, sem calor, sem emoção,
puramente cartesiana e
uniforme, suficientemente uniforme
para alguém que só precisa existir.

Estou em algum lugar,
entre vidro e cantaria,
trêmulo expansivo,
rogando às escuras
e batendo palma:
liberta-me,
sonho em ser teatral.

Vou longe.

terça-feira, setembro 15, 2015

SIBÉRIA!

Sentei no chão e decidi espalhar a pilha de papel com tudo que já escrevi, inclusive o que rasguei na noite passada e resgatei do lixo assim que acordei. Aí me dei conta que me encontro num daqueles muitos momentos em que não sei o que fazer da minha vida, por isso vou me alimentado do que já passou. E por mais que me esforce para criar algum tipo de vontade de perseguir um futuro, eu não consigo. Hoje a caça sou eu.

segunda-feira, setembro 14, 2015

PASSEIO!

Não te ajoelhes,
porque não nasci para ser destino de ninguém. 
Me encontraste diante do Jardim das Delícias;
agora estou de partida para O Juízo Final.

domingo, setembro 13, 2015

VENTANIA!

Ah, amor,
Ainda lembro daquele domingo vibrante,
Que me viste livre e regozijante
Entre as infinitas figueiras da família Ardor.

Ainda sinto o rastro de tristeza,
Quando tive coragem e
Olhei-te fundo nos olhos
No momento em que, despudoradamente,
Me ofereceste a fruta.

Ainda lembro como enchi a boca e disse-lhe:
“Temo comer, porque, de tão linda, se parece com o nosso eterno amor.”;
Prontamente me disseste:
“Come, pois nada dura para sempre”.

quinta-feira, setembro 10, 2015

SEM TÍTULO

Disseste que em uma semana voltarias 
para ouvirmos o lado B da fita do Morrissey. 
Ainda espero 
e espero que não esqueças de tuas promessas.
Now, everyday is like Sunday.

ORIGEM!

Essa coisa de ter que conviver com o que chamam de alma é uma coisa séria. Parece um terror fadado e tão forte que, às vezes, sinto ser exclusivamente meu, fazendo com que eu me encha de uma responsabilidade arfantemente crônica. Aí,quanto mais penso, me destruo, porque é uma condição expansiva que me obriga a sofrer por amores perdidos que esfacelam meu timo. Agora, encontro-me refestelado sobre uma relva úmida dentro de uma realidade sem qualquer horizonte em que imagino como os nativos de Marte nos temeriam porque nós somos os verdadeiros E.T.s. Estranhos.

quarta-feira, setembro 09, 2015

JUEGO!

Minhas palavras estão acabando, amor, 
e tu não me lês. 
Não sei se me arrisco e vomito o que sobra 
ou se guardo e me afogo de uma vez.

(Re)UNION!

Desde que chegaste e bateste em minha porta segurando teu gato, sou muito mais fora da medida. Sabia que ficaria não somente para um chá, mas também não sabia que ficaria tempo suficiente para tomar conta da casa. Logo eu que penso tanto - e chego a pensar que vou morrer de pensar -, não consegui prever nada do que viria me acontecer. Senta-te, temos inferno à vontade.

domingo, setembro 06, 2015

LIBERDADE!

Tem um momento da vida que se anseia tanto por liberdade e se tem uma consciência disso, que praticamente todo o tempo útil se transforma em tentativa de tornar isso possível e pleno. Mas uma liberdade que não tem nada a ver com emancipação. Na verdade, tem. Uma emancipação de si mesmo e de tudo que prende e impede de se realizar coisas que se deseja e que são básicas para sobreviver. Emancipação do medo, da solidão, da covardia. Pelo menos emancipação, já que livramento é impossível. São coisas indesgarráveis. Mas liberdade é uma perigosa porque é oriunda do caos. É preciso por sua própria conta em risco, porque há-se a chance de não conseguir parar e querer que a liberdade vá aumentando descontroladamente  e, assim, torne-se sistemática. Você me entende? Já sentiu a liberdade se expandindo? A liberdade é assim: se sobrepõe a tudo.

sábado, setembro 05, 2015

BACTÉRIAS!



















Um dias desses eu vomitei. Vomitei na rua, no caminho de casa e fui acudido por senhor que colocou a mão sobre meu ombro e disse "vai ficar tudo bem". Senti como se Augusto dos Anjos tivesse me tocado e todo meu corpo, inconscientemente, foi aos poucos ficando livre de coisas desnecessárias. As coisas desnecessárias são como bactérias: algumas são realmente mortais e precisam sair o mais rápido possível; outras precisam ficar por mais um pouco de tempo, porque vão eliminando ooooutras desnecessidades que não podem ou não conseguem ser eliminadas naturalmente. Uma desnecessidade vai sobrepondo a outra e outra que se sobrepõe a outra e outra que é sobreposta e assim vai. É um homicídio atrás do outro. O vômito é isso: são os restos ou um todo de uma vez saindo. Mas o gosto do vômito é amargo. Uma hora sai tudo e, então, chega mais um vazio, mais uma oportunidade de vazio, para quem sabe começar tudo de novo. 

sexta-feira, setembro 04, 2015

Em formação!


Caminhei não sei por quanto tempo e vi e senti e ouvi tanta coisa, mas não vale a pena contar, não porque não ache necessário, mas porque tenho tantas outras coisas para falar e que precisam ser faladas - porque já me matam de ansiedade -, que seriam mais instantes gastos com o passado. Fala-se muito em "não se sabe do dia seguinte", mas na verdade ningém nunca sabe do minuto, do segundo, do milésimo ou do instante seguinte. Então, não quero e não consigo me demorar porque clamo falar. Falar com com o corpo, com a alma e com o coração. O caminho e o tempo não importam, só queria dizer que:

Apenas segui o rastro de amor que é somente teu e cheguei para lhe dizer: quero ser teu. Faz-me ser de ti e me envolve com o mais puro amor que sai de todos os teus poros e teu espírito e me invadem bruscamente por baixo, por dentro, pela boca, fazendo minha vida cair de joelhos pela força que chega.

Sou eu bem aqui.

quarta-feira, setembro 02, 2015

33!

Cheguei no hospital. O paciente era eu. 

Trinta e três minutos desde que comecei a esperar aqui.


O tempo foi passando e ficando mais difícil até que chegou o momento em que precisei fechar o olho e me entregar ao que me puxava, talvez sabendo que seria a única forma de por um instante não ter a cabeça metralhada por esse monte de pensamento autoimune que me enche o saco há séculos.
Naquele momento, todos os meus regozijos e síndromes se misturaram, ora parecendo uma erosão violenta que sai arrastando o que encontra e se revira na própria inconsciência, ora parecendo uma pistola disparada em que o fogo se espalha e, mesmo sabendo que não vai dar em nada, se entrega.
Só tem trinta e três minutos mesmo que estou aqui?
É que apresento um cansaço descomunal. Trinta e três já é um número grande por natureza e só de pensar já fico mais cansado e ofegante. É justamente esse tempo (gigante) que me assusta, sabe. Aliás, o tempo assusta e é violento, mesmo pra mim que nunca tive medo de nada. O tempo assusta e é violento princialmente para quem o percebe demais, para quem consegue acompanhá-lo. Me falaram que o tempo tem que ser esquecido, mas como é que se esquece do tempo?
Tudo que havia para ser revirado dentro de mim, foi revirado. E sempre que me reviro ou sou revirado, as coisas não acabam ou se acalmam, tampouco demoram 365 dias ou 4 minutos pra acontecer outra vez. Tudo volta a acontecer em frações mínimas de tempo depois. Agora, provavelmente, já pode estar começando a borbulhar outro estouro e vindo num vulto ascendente, me comendo de baixo pra cima. Quero dizer que as coisas de qualquer natureza precisam cessar um pouco para mim.
Com a cabeça praticamente toda entregue, penso que não sei se consigo justificar minha vida e dar rédeas a ela. Talvez seja por isso que não consiga construir nada e ter minha própria história. Às vezes é que tão difícil que fico em dúvida e não sei se leio o Manifesto Surrealista ou a Bíblia. Gosto de fazer desafios comigo mesmo. Minha única intenção é destruir a mim mesmo.
Neste momento, tenho uma vontade de sair por aí pelo mundo e praticar o que os nativos de língua inglesa descrevem com o bonito nome de wanderlust. Sabe, venho percebendo como alguns conseguem naturalmente realizar acontecimentos de forma mais simples, enquanto outros precisam de um tempo mais extensivo para fazê-lo, não porque não tentam ou não sabem, mas porque a naturalidade de ser deste segundo tipo de pessoa é mais lenta. Se pudesse dizer alguma coisa agora, eu diria: tenha paciência com elas.
Eu estou aqui parado, com a wanderlust me batendo e a coragem indo no ritmo de uma força humana. Este foi o pensamento que venceu a batalha com todos os outros. É que meus pensamentos acontecem assim, deixa eu explicar: há uma torrente deles, como um fluxo de porra cheio de espermatozoide. Só um vence e é ele que fode com tudo. E o mundo é isso mesmo, essa coisa embolada, distópica, doentia e seletivamente natural.  
Parei de tomar meus remédios pro corpo. Deve ser por isso que vim parar aqui.