sexta-feira, novembro 22, 2013

CHAMADO DA MORTE!

Suplico viver uma vida sem volta, onde a esqualidez do meu coração infeste e corroa o resto das minhas entranhas vagarosamente até que o sofrimento transforme-se numa paz mortal e torne-me ser infindável. Não há nada, apenas um corpo exangue que refestela-se sobre uma miríade de desalentos, cingindo-se por um rosário, e que ainda expele o fardo da loucura sufocada. Com o timo condicionado à miséria, as faculdades começam calmamente a serem substituídas por uma luz espectral, enquanto um livramento imensurável evola-se regozijante através do peito. O verdadeiro prazer instala-se e consome todas as dores oportunistas da matéria que destruíam esse corpo inerme sempre à espera do nirvana. A morte alegre veio e disse-me: "entrega-te". 

quarta-feira, novembro 06, 2013

SACRIFÍCIO!

Fechei os olhos numa entrega súbita e, desesperadamente, lancei-me a cavar na areia acaramelada da praia de Botafogo um buraco que não tinha fim, o que me deu vontade de chorar. Era do tamanho do amor que sinto por ti. Ali quase me enterrei para eternizar-me como o amante moribundo. Olhaste de longe com toda tua vaidade - a vaidade que seca e anula meu sentimentalismo - e viste o pranto derramado sobre aquele que, na verdade, seria o nosso amor, à medida que minha tristeza crescia e era fulminada pelo teu desprezo. Não intenciono que me desejes por misericórdia, apenas que sejas verdadeiro, assim como minhas entranhas o são. Enquanto dormes, e és mentiroso mesmo enquanto sonhas, estou sempre prestes a morrer, e a Terra promete acabar. Olha, perdi meu equilíbrio de mim. Estou misturando lágrima com suor, correndo e tombando para que jamais possas enfeitiçar-me outra vez. 

segunda-feira, novembro 04, 2013

O DIA EM QUE O TEMPO MORREU!

Quando falo de ti é tão íntimo, porque logo me encho de uma sensualidade pura, ascendente que não consigo controlar e que ninguém jamais entenderá. Então eu prefiro não falar nada. Neste silêncio, fecham-se os meus olhos e então penso em teu corpo escorado no meu, circundados por uma aura calma, produzindo uma sôfrega aleluia de alívio e uma paz de gozo eterno, enquanto meu coração esquálido ensaia que vai explodir em energia vital. Este caminho escuro que percorri depressa e arfante foi somente para chegar no sonho doido de nós dois; e nele o tempo morreu, e quando o tempo morre é uma dádiva mesmo, porque liberta da agonia de qualquer coisa e do medo de ser o que se é. É quando tu enlaças teus braços no meu horror mais infindo, mata o animal atroz que me persegue e faz de mim um ser real. Idolatro-te todos os dias como se fosse o primeiro dia da ilusão de estar vivo. Ama-me.  

terça-feira, outubro 29, 2013

A ENERGIA DO MEU SILÊNCIO!

Enquanto este coral de almas sentimentais anuncia a urgência que tenho para viver em paz, ouço sempre um barulho de coisa desmoronando - talvez seja eu. Sinto uma dor tão forte, que não sei se minha vida vai acabar de vez ou se serei amado para todo sempre. Dizem que vida é meio termo, mas não consigo: às vezes me sobra serenidade, às vezes me falta. Às vezes sou o sangue, e às vezes nada. Tenho falando tanto sobre medo, mas não consigo explicar do que se trata, porque medo já é palavra que dá medo, então eu tremo duas vezes. Parece que o holofote que emana do céu cintila-me como se eu fosse o escolhido. Sou eu que resguardo o portão da eterna saudade e da inquietância. Olha-me, tempo, e vos suplicarei que intercedas por mim ou que me mate, porque estou cansado de esperar. Arrependi-me de me arrepender, e cá estou eu mais uma vez procurando o ouro que larguei no lado da tristeza. (Ninguém se importa) 

segunda-feira, outubro 21, 2013

ARREPENDIMENTO!

Às vezes esqueço as palavras que já tinha aprendido e sou grosseiro simplesmente olhando para o vácuo ou balbuciando coisas que eu não lembro ou sei o que significam, e finjo não estar interessado em ouvir nem mesmo a prosa mais deliciosa sobre Clarice Lispector ou Rimbaud. Perdoe-me: esta falta de modos é proveniente dos meus nervos que num surto catatônico e abrupto convalescem e revelam minha verdadeira essência penosa de ser humano desajeitado e inexperiente de protagonista da própria vida. São esses malditos nervos que acentuam minha fraqueza trêmula para a felicidade repentina e o desconhecido, não obstante ser gente e, diariamente, ter que implorar por um milagre para sobreviver. Se não consigo fitar os olhares mais preciosos que surgem em meio a um tumulto numa noite fresca de lua cheia  é porque estou catando pelo chão o brio que me resta, e se não conseguir fazê-lo e fitar aquele que deveria, devo pagar e ser devorado por uma vida eterna de domingos solitários. Tenho medo da felicidade - estou sendo completamente verdadeiro, mas não sei porquê. Talvez seja o coração que agora sente uma angústia do tamanho do tempo.  

sexta-feira, outubro 18, 2013

A CASA ABANDONADA!

Vou falar uma coisa e desesperadamente vos peço: se não compreendeis essa minha via-crucis, deixa-me em paz. Eis: 

Solidão é como o sofrimento de Cristo: é necessário para salvar. Agora estou vivenciando meu próprio calvário e mastigando a morte que tem a textura da calmaria de uma guerra para salvar o que eu não sei. Meu corpo aparece desnudo de panos brancos e impregnado de um silêncio barulhento expondo tudo o que necessário para fazer todos que me olham entenderem que não há outra natureza. Esse é meu estado de espírito, e é assim que tento anular toda a ansiedade que me consome. Sendo eu, sendo um só, porque não posso me separar e ser dois. Esse meu estado que fico a face com a alma em pessoa, não é uma luta para salvar a vida, não é uma vida e tampouco é para fazer parte de vida nenhuma, porque nunca tive uma. É na verdade, para me salvar de mim mesmo. E é assim que sou, sempre acontecendo de dentro para fora. 

DESTRUIÇÃO!

Saudade é ode, e 
ode não se entende, e se 
não se entende, esquece; 
esquece porque gente do mundo padece.

segunda-feira, setembro 23, 2013

O MAIOR SONHO DO MUNDO!

Tenho tido um pouco de medo de viver, então tateio e me seguro em alguns lugares procurando a última salvação. É aí que sumo e me transformo num tipo de coisa tão minúscula que fico a ponto de existir somente aos olhos de Deus, e só não sumo mais, porque é impossível ficar invisível a Ele. Fico apenas sendo, refestelado num silêncio tão melódico, enquanto meu coração quase se resplandece e se restabelece de todo o impropério que lhe é causado. Ainda corro de tudo que não posso compreender e de tudo que não me compreende, porque toda a coragem que tinha gastei tentando. Não tenho pressa de sair desse escuro - se saio, me perco. Agora estou num estado entre morrer e nascer: é o desconhecido. E nesse estado o silêncio é tão forte que não importa quem me chama, eu jamais ouvirei. 

sexta-feira, setembro 13, 2013

CAMINHANDO EM TRIÂNGULOS!

O ato de descobrir é uma mentira, porque, na verdade, tudo já existe. E esse meu desejo por liberdade já existia, eu só não sabia que nome dar, porque a alma havia devorado a mente e não conseguia pensar. O fato é que eu não sei que nome dar a muitas coisas. Agora mesmo, a vida tentou sair, mas coloquei-a de volta para dentro. Não sei como isso se chama e, então, me atrapalho. Não entendo. Eu existo? Ou sou uma mentira? Não gosto do ser humanismo. Prefiro sobreviver sempre na repetência e no rumo que tudo deve ter. Todo dia é o mesmo e já nasce com uma pré-existência: tenho que trazer a vida de volta para dentro e ardilosamente viver, sem tomar outro rumo para não correr o risco de encontrar-lhe, porque sei que tu queres sempre me ser. Tu já existias também na mais profunda e torturante forma de perturbação. É disso que tenho medo: estou quieto e absorto, mas não posso ser livre, porque o que sou e o que és já existe. 

segunda-feira, agosto 12, 2013

ESCONDERIJO (SIMPLESMENTE DIZENDO)!

                   Tenho um cansaço grave, mas vou lhe escrever esta carta inventada, porque a tristeza é maior que tudo e preciso me materializar diante de ti de alguma maneira. Vou lhe falar de dentro do lugar mais secreto que existe, e que fica atrás da saudade. Vou começar: 

Estou nervoso, porque sou precoce, e já imaginei tua expressão enquanto me lês. Conheço-te só por fora e sempre precisei fechar os olhos e me concentrar para criar tua imagem na cabeça. Agora mesmo estou inventando que nos encontramos para afastar o medo de ir vivendo sem o que se quer, e que também ficamos de mãos dadas, porque o frio aqui é imperdoável, é como São Paulo. A cada dia que passa fico mais parecido com o mundo e tenho mais medo que estejas assim também. E isso não suporto. Quero deixar de sentir, e se pra deixar de sentir tem que deixar de ser humano, então quero deixar de ser humano - entendes? Essa saudade que sinto é humana. A vontade de escrever-te infinitamente é humana. Estou escrevendo porque parece que o nosso pensamento espiritual acabou e só restaram os fantasmas da madrugada: a hora que a alma perde o limite. A intensidade amistosa que ficava entre nós caiu num buraco e perdeu o poder. Desde que foste procurar tua verdadeira vida noutro lugar não falo mais e vivo por obrigação em meio a um espiral que me faz repetir tudo. Pareço uma fita rebobinada - passado, presente e futuro são iguais. Perdoe-me se estou falando demais, mas só estou dizendo. E estou retraído como um girassol que perdeu o interesse pelo sol. Nunca tive coragem de agir por conta própria, e talvez por isso, tenhamos fugido para mundos distintos. Nunca gostei muito de jogos, mas decidi brincar numa roleta apostando a vida paralela entre nós - água e fogo não é normal. Só Deus sabe "como" sou eu. 

terça-feira, julho 09, 2013

A REALIDADE SECRETA DAS COISAS!

Vou falando comigo: Eu sou eu há muito tempo. O problema é que EU sou EU demais e me queimo como uma chama que não aguenta mais o próprio calor - e como viver numa armadilha tão obscura? É que caí e não consigo mais sair. Há uma centena de espadas apontadas para mim, e eu só preciso escolher quais me atingem de vez em vez a fim de sobreviver. É que cada golpe me priva de alguma coisa. Faltam quinze unidades de tempo para o que se parece a madrugada, mas não tenho certeza, porque fiquei com medo de contar e pensar que o próximo golpe seria ficar sem o silêncio. Não entendo essa realidade formada por traços e planos perfeitos - e se tento ir mais profundo, me lanço numa aventura randômica. A única coisa que faz sentindo é quando me debruço sobre o que escrevo e sonho que me transformo num gato vivendo uma vida só de amor ou simplesmente uma vida própria. Fui coberto com um manto roxo por alguém que enxugou minhas lágrimas, largou minha mão e me ordenou uma coragem sagrada. E nisso tudo há extremos: é tudo e nada: amor e morte. E não tem como ser menos. 

quarta-feira, julho 03, 2013

FÔLEGO ACUMULADO!

Eu não me sinto. Precisei me deixar não sei por quanto tempo a fim de viver o que desconhecia - ou pelo menos o que conheci e esqueci durante o tempo em que a vida se enraizava dentro de mim. Na verdade, o que saiu de mim escorregou. E para isso precisa-se de fôlego. Fôlego: se tem ou não se tem. E o fôlego que eu falo é o fôlego de quem vive de dilemas e que precisa de um corpo extra para ficar vivo. É o fôlego de quem olha a página em branco e amarga a dor de não saber o que fazer. Isso não se trata de um sonho ou de algo espiritual; transcende. E tu que me lês, não sinta medo. Acabei de sair de uma piscina vazia num vulto louco e estou vulnerável, tão vulnerável que pode fazeres de mim o que quiseres, pois estou me dando como um animal que se oferece. Logo defronte, há um espelho que reflete essa vida insuportável incessantemente e devolve-a para mim nessa repetição que não há como se livrar. Eu não sei ser eu e não sei viver essa vida. Me tornei um amontoado de partículas soltas que ninguém nunca soube para o quê serve. Pai nosso que estais no céu, eu estou aqui na Terra e sinto que não me posso mais. 

sábado, junho 01, 2013

FRONTEIRA!

Há uma fronteira entre o nome e o ser que tem o nome. Há uma fronteira enorme entre o meu nome e eu. Não preciso de ambos. E a alma que fica no meio disso tudo? Sofre como um criança tonta segurada em cada braço e disputada para jogar cartas ou cabra-cega no Parque da Redenção. Tenho pena da alma que precisa esperar a salvação dormitada e absorta sob uma nuvem esparsa de fumaça. É uma tola que nasce a mercê dos abismos e das plenitudes, tão tola que precisa de alguma coisa (ser amorfa) para durar. Sou só corpo. E Nesse corpo que vos fala se esgueira uma alma que deseja estabelecer um mutualismo coisa-milagre-milagre-coisa. Mas como viver sem "eu"? É morrer de medo de tudo ou é morrer de medo de nada.

sábado, maio 25, 2013

UMA HISTÓRIA SOBRE ESPERANÇA!


Vi teu rosto no cômodo mais sublime e encarei tua respiração ruminante testa a testa lutando contra uma dor aguda que violentava meu peito. A verdade é que, se não entendo o que me dizes, não procuro ir profundo. Não posso decifrar tudo sozinho, não posso nem me decifrar - e nem sei. Convivo melhor na luz da manhã - é que essa hora ainda não desmistifiquei o sonho que tive. Aos poucos, a casa vai deixando de ser obscura cheia de uma segurança que não era para ter. São onze e meia da manhã, mas se parece cinco da madrugada - a hora que sinto teus olhos em cima de mim. Temo que tua mágica me destrua. E temo que aquela dor violenta me destrua lentamente, o que não suportaria, porque lentamente é cansativo; destruir tem que ser como uma explosão de luz. Uma explosão que às cinco da madrugada acabaria com a avidez de minhas mãos de precisarem sentir tua sinergia toda poderosa e do coração em amar-te. A essa hora já não estás mais parado defronte a mim ou escutando sorrateiramente pelas costas tudo o que me vem sobre o que és. E sei que trocando minha vida de lugar, tu serias ainda a mesma coisa.

quarta-feira, maio 22, 2013

A OUTRA REVOLUÇÃO!


Prefiro a ilusão que me é natural à realidade dura que paira nessa minha vida lassa, num estado de sítio aparente. Estou pela metade. E estou bem. E nem quero ficar completo hoje. "Um dia desses" - é o que mais pronuncio e o que mais se ouve - um dia desses talvez eu precise ficar completo, mas vou mantendo essa bagunça que acordei e me habita. Já tenho água demais dentro de mim tentando me controlar. Às vezes quando me deito sinto como se um marulho ocorresse. É o anúncio de que sou gente. Somos perenes; a morte não, fica - alimentada por uma necessidade impessoal. E se não posso ser feliz do jeito que fui feito pra ser, prefiro ser perene mesmo, e ser encerrado desse jeito: vou até a cozinha e sinto meus pés quererem grudar no chão e, fico mais perto do que é real e jubiloso. O quase é que me enche de vida. A vida que cerca meu coração que se parece com a Bastilha que foi tomada. E vida é o quê?

sexta-feira, maio 10, 2013

PRELÚDIO (SILÊNCIO)!

Num breve passeio pela casa, preciso de um silêncio reservado. Quero falar mentalmente sobre alguma coisa que não consigo conhecer. Não sei dizer o que é. Amor e pavor ainda não distingo. Sinto como se Deus olhasse, mas estivesse indiferente a essa hora - o que me atinge como uma luz doida que sai do ar e penetra na água. E ao mesmo tempo que me consolo, me pego numa agonia que parece viva e tem vontade própria, e se torna agressiva por um meio. Parece que uma fauna inteira vai me devorar. E o abrigo que construí agora se perde - acho que me vi. O silêncio que peço também é "pensamental". Quero ter uma solidão de cabeça, daquela que se esquece nome, feição, corpo, e se parece com uma hipnose. Me cansa pensar 15 linhas por segundo. E me cansa não chegar a lugar nenhum e ser a mesma coisa. E me canso tanto que chego a ficar de luto de mim mesmo. Quero é ser levado pra o lugar onde eu exista suavemente.

sábado, maio 04, 2013

AVENTURA & REPRIMENDA!

Que diferença faz quando um mistério é desvendado? Mistério não é resposta. Quero dizer uma coisa que eu descobri, assim: hemoglobina é expectativa disfarçada, e sei porque fico prestes a vomitar uma vida a cada instante. E desperdiçar instante é afunilar tudo o que se quer. E o que não se quer, é tirar a pele das coisas. Não se deve. É um embaraço constante que me percorre - tento não pensar, porém descubro o que não quero. Mas cair sempre numa aventura maior do que se já é não é uma opção. Minha mãe falou sobre estar "infartada de amor" - quis descobrir; me ative com medo de tirar a pele e conhecer mais do que posso e do que é necessário; hesitei na emoção. É perigoso. E tudo isso envolve uma fome e um estado desconhecido. E "tudo isso" que eu digo, é tudo mesmo. Tudo que vem e a tudo que eu vou - é o que acontece, é o que eu digo, é o que me fazem, é o que eu vivo, é o que eu evito, é.

quarta-feira, maio 01, 2013

INEXISTÊNCIA!


Sorte é um destino que não pode ser reclamado. E eu que sou verdadeiramente tão seco por dentro e preciso ser preenchido, vivo à espera, mesmo sabendo não ter o direito de receber. Tenho a sina de ser desprezado como prazer maior, porque, na verdade, eu não existo. Não sou além da Criação Divina e nem sou antes da primeira palavra proferida. E quando existo é que me inventam - com intenção desconhecida. Sorte é quando só existe uma rosa no vaso e ela é amada com uma avidez tão grande que quando chega a hora de morrer, morre como uma felicidade invejada. Sorte também é como o mar que tem a profundeza pra si pra depositar seus sentimentos puramente inefáveis. E o que fazer quando não se tem? Suporta o cansaço.

sábado, abril 20, 2013

DE S APE G O!

Não vislumbro mais os bons sentimentos. Comecei a nadar numa inconsequência tão forte e imprevisível que a vida agora desconhece teu filho sucumbido e sôfrego aos acontecimentos que levam o ser ao limite. Os impropérios de um dia-a-dia humano já não incomodam mais como na era passada, porque os engulo como se fossem segredos que me ocorrem - e não conto nenhum. Não me deito mais afoito em meio ao calor estivo, que já é aflitivo o suficiente, esperando receber a carta endereçada de São Paulo. Não sou mais como um animal doméstico que precisa ser cativado e sofre de ausência. Não. Hoje sou vazio como um hiato, naturalmente desprovido do apego que um dia achei ser indesligável. Hoje sou quase como um adolescente demente que tem a fantasia como sua desgraça. E o que importa se me desconheço? Resguardo tudo o que não dei numa tentativa cega e desesperada de ser algo em que ainda não me transformei. 

sábado, abril 13, 2013

A BELEZA DA SAUDADE!


Não consigo entender essa vontade umbilical e inumana de olhar-te - não diretamente nos olhos, porque Deus não me deixa - olhar-te tenro. Digo-te: é preciso paciência como a mulher que coze a colcha seis horas por dia, a qual cubro meus pés, a fim de imitar o prazer que é sentir-te no meu leito abençoado e sempre doente por ti. Acho que é teu halo de displicência que me faz agonizar perante a ti e amar-te tão catatonica e temerosamente como Santa Teresa amou. Meu coração, que oscila entre o gozo e o cansaço, flutua por uma cidade fantasma, onde a única salvação é a tua casa. Aos poucos, definho enquanto o privilégio da saudade que dedico a ti cresce num ritmo delirante. Peço-te que abras caminho para meu corpo cair, já que teu afago será a última coisa que terei antes de me entregar à Sagrada Eternidade. 

domingo, abril 07, 2013

O CORAÇÃO INVISÍVEL!

Enquanto o caldo da manga escorria pelo braço, pude sentir a vivacidade do corpo ao mesmo tempo que me senti tão ordinário quanto alguma coisa ordinária que não sei e não devo dizer. O caldo parece o plasma que, delicadamente se desprendeu do sangue e, corre recém saído da cabeceira, aflito por um horizonte. Pergunto-me em que parte do corpo fica a alma. Marejado, e em meio a um silêncio pesado como concreto bruto, encarei o sumo como se não me pudesse livrar, e tal fizesse parte de mim como uma veia pura de vida. Meu coração batia arfante, porque a minha vida é assim - escorregadia e perigosa. Qualquer coisa é um estopim. Saudade é estopim, felicidade é estopim. Solidão é constante. Ajoelho-me estendendo os braços numa posição de redenção, esperando só que o caldo pingue na sombra da alma. 

terça-feira, abril 02, 2013

DOLO E CONSCIÊNCIA!

O leão que me habita nunca teve o brio necessário para suportar a realidade infernal em que vivo. E como vivo? Acomodo-me no chão de qualquer maneira já familiarizado ao pisoteio grosseiro da indocilidade. Suplico ao reino onisciente a piedade, não por capricho, mas por incapacidade de ME levantar e levantar minha voz baixa que só sussurra o que o mundo pede. Em todos os instantes dentro dos agoras fico inerte na vida movediça, esperando o socorro dos anjos perante à intemperança nefasta do dia. Não caibo mais num dia; e enquanto tento sobreviver - já que viver é quase insuportável -, torrentes de promessas passam por mim. Temo que os gritos dos semi-deuses insensíveis façam-me cair numa tristeza infinda e chorar um pranto que jamais desferi sequer à daninha mais maldita que já pode existir. E aceito tudo isso, dando as outras partes da alma para serem golpeadas. 

terça-feira, março 26, 2013

PASSAGEIRO!


Renasço todo dia e saio do útero virado de cabeça para cima. Sou trazido para o mundo carnificinalmente, enfadado ao compromisso e ao destino de ser igual e diferente. Não me faço perguntas. Sou mudo e quieto como o mangue, pouco notado, mas desempenho uma função já que estou aqui. A verdade é que vou me anulando com medo de me perceberem e me intimarem para viver. Vou me anulando e me acumulando como uma bomba de efeito apreensivo prestes a explodir num vulto. Mas eu renasço, e ainda não entendi por quantas vezes e com que intenção. Meu tempo se esgota todo dia, antes do fim do dia, antes que haja tempo de pronunciar "eu". Me liberto do invólucro oblíquo, mas logo estou preso dentro do mundo - que me sufoca, me obriga a lutar e me caça como um último ser - outra vez.

quinta-feira, março 21, 2013

O PERIGO QUE ÉS!

O cheiro de suor competindo com o cheiro do campo de figueiras despertam-me a lembrança do som da tua docilidade e da tua face tão sexual e cândida. É assim que gosto de viver, me confundindo todo, como quem vive cheio de brio para o desconhecido. Nesse meu esconderijo, o ar tem uma fumaça rala, e os mosquitos orbitam na minha cabeça absorta. Absorta em quê? Eu sou uma coisa, e tu és um pouco como a loucura que me oxigena. Isto me põe sempre à beira: lançar-me em tudo que não tem nome; e não é no vazio, porque vazio tem nome. Enviveço pelas pontadas que sinto enquanto estou a conjugar-te. E é só. Conjugar-te vai além de viver o perigo que és - uma mistura de buraco negro e felicidade. 

sábado, março 16, 2013

OITAVO SACRAMENTO!

Desceu apressado do bonde no exato momento em que a via-sacra se preparava para a quarta estação. Já era tarde para aquele bairro residencial que se recolhia cedo. Daquele instante em diante, baixou a cabeça e adaptou os passos ao modo de andar de todos aqueles que reviviam o caminho de entrega Dele, depois de um dia de trabalho extenuante. Havia duas pessoas na porta de uma casa simples ao redor de uma altar improvisado coberto por uma toalha de bordado branco e uma vela que tinha a chama endoidecida pelo vento de fim de verão à espera do que viria. Aos trinta e tantos anos, não era um religioso típico, principalmente, porque, ao longo da vida, deixara de ir à missa aos domingos. Mas era simpatizante de São Judas Tadeu, por seus motivos próprios e incontestáveis, e sabia rezar o credo. Olhou para trás uma única vez, já perto de virar a esquina, e a liturgia tomou seu coração, lembrando de suas dores, e perguntando-se quem iria carregá-las e chorá-las - um pouco inconformado e aceitativo ao mesmo tempo. Por um instante pensou em ficar, mas temeu que Ele, coberto de complacência e luto, esquecesse de lhe proteger na última quadra que faltava para chegar em casa.

sexta-feira, março 15, 2013

SÚPLICA DO PRÍNCIPE!

Abre-te os braços, solidão, que o destino hermético vai enviar-me a ti. Evola-me a tua casa escura, pronta para o meu comportamento sazonal, que distrai-me com o jardim de fúcsias bailarino ritmado pelo caos. Refestela-me na tua volúpia e diz-me que tua delícia é minha, acolhendo este coração para ti. Sou eu que te clamo, e entrego-me mergulhando entre os nenúfares para que me escolha como teu preferido. Acompanha-me nesta saudade hedionda que trago para usufruirmos enquanto nos abraçamos e estamos a sós. Com a voz aguda, e a face entre a luz e a tempestade, chamo-te para que te enlaces a mim, o eterno príncipe da Cavalaria das Sombras, num silêncio sublime que ninguém jamais saberá.

quarta-feira, março 06, 2013

A PONTE!

Atravesso a Ponte de São Pedro e sinto-me pequeno pelo mar, pelo concreto, pela aurora; e cativado por tudo isso. Enquanto caminho, a estrutura protetiva lateral de arame treliçado tremelica invadida pelo vento da costa oeste, o qual eu não entendo, se contorcendo e se dilatando e reclamando por conta dos meus dedos - aos poucos empoeirados - que tateiam seu espaço. Sou egoísta e continuo grosseiro dedilhando a fina leve estrutura numa viagem de um caminho só através do passeio suspenso de um metro e vinte centímetros de largura. Fico cianótico, do tom fraco do céu que vai embora e aprecio, e, gentilmente, se comunga com o rósea pesado que mimetiza a apoplexia que quase tive ao subir ali. A cabeça aérea é sufragada pelo espírito que, como uma ordem divina, requer atenção para o horizonte-paisagem. No centro da ponte, passam carros velhos e novos, ininterruptamente, formando uma redoma sônica que é capaz de hipnotizar meu corpo e acalmar meu coração. Vou indo. Olho para cima, vendo a simetria precisa do ângulo perpendicular robusto de aço entrosado ao concreto que segura tudo aquilo, pensando nos amores que não suportei - e que não me suportaram. No fim, agito o lírio frágil que tenho na mão esquerda por cima da cabeça dando um sinal: tenho a vida nas mãos.

terça-feira, março 05, 2013

-ME-TE!

Gosto de surpresas, mas só as que te envolvem. Às vezes, prefiro a quietude e rigidez da vida parada ao medo vigente que a marola do novo pode me dar. É porque tu sou eu, só porque tu é ti. Tenho tanto para fazer, ao mesmo tempo que não tenho nada - nada é alguma coisa. Tanto apreço a cultivar. Tanto amor. Deixa-me te mostrar que sou destemido. Queria-te ouvindo-me do jeito ofegante que estou e olhando-me do jeito feio que pareço. Deixa-me falar-te como sou: enche o copo de água, tapa com tua mão; vira-o de cabeça para baixo e solta a água presa. Vou para tantos lados que perco a integridade indo de canto em canto. E seguramente volto a prender-me e impregnar-me outra, e tantas outras vezes em ti. 

ATRAPALHADO!

Cansa-te de me enganar que aqui canso-me de querer o aposento escuro dia após dia, refestelado na solidão e inocência mais fatais que existem. Para mim, existe uma só. Vira-te de costas e sais andando com tua sombra esmiuçada - o único merecimento -, e vais até onde tua vida suportar. Fica-te tácito, pois tenho medo de ti, quando te tornas maiúsculo e superlativo. Não sou igual a ti, que te escondes em tua casa apalaçada junto com a verdade, e tapa os olhos com dedos abertos para tudo. O sadismo, então, põe-me a pensar o que estás a fazer, desencadeando em meu corpo uma doença, que me leva a admitir: toda cólera que sinto por ti é falácia.

PRONOME!

Estou decúbito, pois, no momento, não tenho o corpo viril e livre como na era que não conhecia os impropérios de se viver e sobreviver. O barulho da máquina corta piso formiga em minha mente opaca abruptamente, indo de encontro à pergunta que forçada e dolorosamente tento formular para um dos fantasmas que me incomodam. Levo a mão à cabeça, cansado da batalha diária, impreterivelmente, quatro horas da tarde - na aurifulgência da saudade. É a hora que não me caibo. A febre me dolore, involuntariamente me virando de lado, me levando a um auto-abraço solitário. Posso estar "com", mas sou só. E vivo disto, disso, daquilo. Estou quase - todos os dias. E só não consigo terminar de fazer a pergunta porque vivo assim.

NATURAL!

Às cinco da tarde meu coração para. Dou-me conta que a vida é um pouco mais difícil para quem não é. É o quê? É! Não há chuva, não há mosquito, há temor, nervoso. Há um ser adestrado, domesticado pelo ímpeto da solidão, deixado de canto pelo tempo. A insegurança não é uma escolha. Mas o medo da próxima hora é verde - de esperança e de pode-se avançar. Não é possível ter certeza. Não sou natural, mas venho da natureza. E sou o quê? 

domingo, março 03, 2013

DÉCIMO TERCEIRO!

Tento ser o volume correto, mas o eco me escapa, me transborda - o eco que sou eu também. Doido e violento, subitamente se acaba, e me acabo, porque é a frieza natural da vida. A vasilha de metal que cai na cozinha quieta exatamente agora - também eu -, cativa por três segundos-luz do décimo terceiro ao primeiro andar que dormita e suporta o domingo ordinário. Sou raso, porém raso de entendimento de sentimento e relevância para a vida, já que não vivo mais do que o necessário. Tenho dois nomes. Mas, infelizmente, não é possível ser. Não sou fantástico, mas existo. É preciso parar de não me acostumar com o jeito sem graça que vai me destruir.

quarta-feira, fevereiro 27, 2013

ETÉREO!


Com o cotovelo apoiado na mesa de vidro vejo veias pontuais correndo do lado de dentro do braço até a palma da mão direita forrada de pele meio decrépita, naturalmente costurada como arame farpado, encarando a cara incongruente. Então pratico a quiromancia, esticando os tecidos grosseiramente e, sem saber se hei de ter outra chance de outra vida, pois me lembro que esqueço do decálogo, é verdade. Enquanto os côncavos e convexos do corpo se enchem de sangue para me suprir, sinto falta de um animal para me compensar a falha de não ser um tal. E me dou conta: não posso ser etéreo. 

quarta-feira, janeiro 30, 2013

A COISA MAIS SINCERA!

A malignidade do mundo parou e me enchi de uma quantidade de ar que era necessária bem ali, e desnecessária para o resto de tudo. Foi o instante. O instante que balançou a Terra de forma quadrada como sempre se duvidara. mas não, aconteceu. Aconteceu quando olhei tua presença e meu corpo se cataleptizou, só havendo tempo de piscar e não entender - não tinha volta. Fiquei surdo e mudo involuntariamente, mas de olhos bem abertos graças à generosidade do estado do corpo, que me levou perto do estado do inefável, encarando-te incrédulo. Despi a alma e, com uma entrega feroz e irrelutável, sabia que minha vida mudara irrefletidamente desde então - desde que vi teu rosto pasmo, casto e tranquilo no meio de todos os cordeiros da sexta-feira. Fiquei dias para digerir a sensação desconhecida. Aéreo setenta e duas horas por dia. Esperando no relógio do âmago quando começarias a fazer parte dessa minha vida - que já era ávida. Meus pelos tremeram como que quando cai um raio colerizado, assim que ouvi tua voz grave. Já tinha o coração condenado, quando tomaste minhas mãos para si, pousando-as em teu colo, me falando coisas de sentimento e temperatura. Não consegui ser eu. Aos poucos, passei a descobrir que não nos podemos pertencer e, que os versejos que faço pensando em ti não podem ser ditos. Não posso recostar tua cabeça em meu ombro, e acariciar tua pele de copo-de-leite perante os deuses. Não posso saber o que fazes, porque receio perguntar. Não posso saber se sofres. Posso olhar em seus olhos, mas não consigo. Então eu morro. Como uma criança se retrai. E fico alternando entre uma vida de espera e uma vida desesperada.   

sábado, janeiro 26, 2013

MATÉRIA INDECISA!


A cabeça quer tempo para pensar enquanto a vida explode em frequentes frenesis. A vida que avisa: não se sabe para o bem - por bem, se para o mal - por mal. Escolher e entender me deplora nos dias de variação de calor e expectativa, quando a tensão beija minha testa. Já penso que não sei se o dia terá salvação ou se vou querer salvá-lo. É só isso que penso, sem o mínimo discernimento, me sendo egoísta até, até depois. Procuro saber quanto custa a inconsequência, porque quero e preciso me deixar. Falhei.

O CORPO NÃO É UM BOTÃO!

O pavor perpassa pelo coração, circula pelo corpo hospedeiro e se instala respondendo ao estímulo externo inerente que alerta a vida resguardada, ainda com um pouco de intenção. Que sou é esse que sou? Sou que soa como um gato amordaçado pelo próprio osso que rói, e não sabe o que faz. Um sofisma atestado na mente. Esse terror cínico que Deus conforta - todo dia. O dia que que tem pressa e não tem pressa. É tudo na menor contagem de tempo possível - a hora decrescendo termina onde? A pele gela, e não mais o susto pasma cada fato que se personifica no rosto. Compreensão desgasta, complica. ,Infelizmente, o corpo não é um botão. 

sexta-feira, janeiro 18, 2013

O HOMEM DO SÉCULO XXI


O homem acuado, sem encostar os braços no para-peito de cimento, não se enerva com o calor da cidade fechada que não chove, não troveja, não. Não. Há outras razões que não glorificam a alma relapsa e involuntária. O homem cospe amor e inventa as mãos dadas enquanto espera o bonde do século XXI. Envolve seu corpo da mais pura graça e toma vida que não cabe dentro de si. Faz do castelo de carta seu imo e da paciência sua misericórdia. Acuado, reprova as paredes rachadas dali  tangenciando seu pensamento que não esse, iniciado há muito. Sedento por mundo, esnoba a felicidade aos poucos enquanto segura na corda meridional do que leva o ser, sem pensar se há, o que há. É o homem que se subverte, se ama sem brio. O homem que tenta fazer parte. O homem que se confunde até o fim. 

domingo, janeiro 06, 2013

O DOMINGO QUE NÃO SAI!


A pele tem o domingo que não sai de jeito nenhum. Enquanto o sol se discara por cada aposento, a mente já tem sua própria consciência e fervilha intempestiva para não sermos o que quisermos. Abrir o olho não quer dizer nada enquanto o coração não tiver o que vociferar. Negar estar vivo não é divino - o Paraíso foi fechado. O lado cognitivo pede o pé direito, o maxilar treme e quase arrebenta, a clavícula desendurece e endurece, os querubins começam a dormir, e ainda é o mesmo dia na Terra. O corpo é um vulto, e incomoda toda a parafernália pelo caminho até o banheiro. Não basta ficar de pé, tem que ficar de pé enquanto tudo na galáxia se derrapa, se esgueira, se são. Ser doce fica entalado na garganta e o resto vem num cuspe duradouro ao longo do dia. O dia santo, que se reprime, fica-se mais calado, e espera-se a recompensa bem merecida.